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Ele disse, ela disse: Questão de gosto.

| Desfavor | | 22 comentários em Ele disse, ela disse: Questão de gosto.

Clichê, eu sei...

Num relacionamento “minimamente” estável, imagina-se que cada uma das partes seja uma das maiores interessadas na estética da outra. Não é incomum que pedidos e exigências sejam feitas nessa área, mas não existe nenhum consenso geral sobre a necessidade dessas requisições/imposições serem atendidas.

Cada um trata o assunto de uma maneira. Sally e Somir são exemplos disso.

Tema de hoje: Até que ponto o parceiro ou parceira deve influenciar na sua estética?

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todas as pessoas que boiaram completamente com o meu texto da semana passada. Sempre desconfiei que um texto bem planejado para o público-alvo e uma receita de bolo dariam no mesmo quando quem lê não presta atenção, e tive mais uma prova disso. Não tomem isso como uma crítica irônica, é realmente um alívio ligar o “foda-se” e escrever exatamente do jeito que eu quero a partir de agora. Afinal, quase sempre discordam do que eu nem mesmo disse…

Voltando ao assunto em questão: Eu sou da opinião que não se deve ficar atendendo muitos pedidos desse tipo num namoro. E vou mais além dizendo que uma saudável dose de rebeldia torna qualquer relação mais honesta e intensa.

Aposto que Sally vai usar o seu famoso discurso exagerado, dando exemplos de pessoas que engordam 800 quilos ou que tatuam um ânus na testa. Foi mal, Sally, mas EU vou ficar no campo da realidade. Dia-a-dia, sabe?

E uma das situações que estraga relacionamentos no dia-a-dia é algo que conhecemos de outros campos da vida, mas que dificilmente enxergamos num namoro ou casamento: Os pequenos poderes. “Pequenos poderes” é uma expressão que define uma pessoa demandando algo inútil ou excessivo numa situação simples apenas por poder. “Poder” como verbo e como substantivo. Quando um do casal sente-se no papel de ditar seus padrões, essa característica pra lá de humana vem à tona. E a pior parte disso é que nós não sabemos tão bem assim o que queremos… Sabe quando você mexe tanto numa coisa que estraga? E não sabe mais onde foi que as coisas deram errado?

Padrões de estética são problemáticos por natureza. A atração segue sim algumas regras básicas, mas mesmo essas regras acabam sucumbindo à nossa capacidade de abstração. Beleza é terrivelmente mais relativa do que as pessoas imaginam, embora o homem seja um pouco mais “purista” aos seus instintos do que a mulher nesse momento, todos nós enxergamos algo a mais. E esse algo a mais é muito difícil de se definir.

Você pode perguntar para um homem o padrão de beleza que ele sonha para sua mulher, e ele vai ter várias idéias e imagens pré-definidas para montar essa parceira ideal. Digamos que esse homem em questão queira uma mulher loira, olhos azuis, grandes seios e uma tatuagem no quadril. Além do fato óbvio dele ter uma queda por atrizes pornôs americanas, percebe-se também que essa mulher é tão genérica a ponto de não existir. Esse padrão de beleza dificilmente vai impedi-lo de se apaixonar perdidamente por uma morena de quadris largos e cabelos encaracolados. Os nossos padrões de beleza passam longe de ser uma ciência exata. (Vários estudos foram feitos sobre o assunto e descobriram coisas “inimagináveis” como homens apreciando curvas e mulheres apreciando status… Boa, campeões!)

É mais do que comum ouvir alguém dizendo que se sente atraído por uma pessoa que difere muito do padrão de beleza que ela imaginava que tinha. A atração prega essas peças na gente. O seu ideal de beleza é um ideal. E quem se prende a um ideal ao invés da realidade acaba quebrando a cara na maioria das vezes.

Toda essa explicação tem o propósito de trazer nossos ideais de beleza inconstantes para uma relação estável. Se na hora da atração costumamos levar rasteiras das nossas idéias pré-concebidas sobre beleza, faz sentido dizer que alguma coisa fica confusa quando vai se conviver e fazer sexo frequentemente com essa pessoa.

E agora eu volto para as idéias de “mexer até estragar” e os “pequenos poderes”. A maioria das pessoas vai saber definir com alguma precisão o que as fez se sentirem atraídas pelo seu parceiro ou sua parceira. Mas até mesmo as mais racionais ficam com uma sensação estranha de que não dá para explicar o que exatamente faz aquela pessoa ser a sua escolhida. É algo que está nela, te atrai, mas você não consegue apontar onde.

Eu explico: É a diferença. Principalmente a diferença entre o seu ideal e a realidade. É isso que nos “coloca” no mundo. É por isso que você se levanta da cama todas as manhãs… Suas idéias não substituem o que é real. O contraste e a relação com pessoas diferentes te fazem ser… você. Mesmo explicando não dá para definir que diferenças são essas, já que é impossível definir padrões absolutos na mente humana.

A dissonância entre ideal e realidade que ocorre na atração é repassada para a relação estável. Fica uma sensação que falta (ou sobra) alguma coisa naquela pessoa que você escolheu. E isso é muito natural. Tão natural que muita mulher fica reclamando que fulano se veste mal ou não cuida da barriguinha, tão natural que muito homem fica pentelhando sua namorada para que ela emagreça ou, acreditem ou não, engorde para ficar mais gostosa.

Algumas (poucas) mudanças ou ajustes fazem bem para a relação, mas caso ambos exagerem na sanha de transformar seus companheiros nos seus modelos de beleza imaginários, acaba a personalidade de ambos. E fica aquela sensação de que se mexeu demais e estragou ou descaracterizou o que parecia tão atraente no começo. Aprendam isso: NINGUÉM MUDA, apenas evolui ou regride de acordo com os próprios padrões.

Não nos apaixonamos por imagens, e sim por pessoas. Apaixone-se por uma pessoa idealizada, “no futuro”, e você está armando uma mina no caminho do relacionamento que vai explodir invariavelmente sob seus pés. E a questão é ainda mais complexa: A mina terrestre explode caso você exija demais, independentemente do resultado. Caso não consiga fazer aquela pessoa se conformar aos seus padrões, o desgaste vai se tornando incontornável. Caso consiga, é quase certeza que você “perde a mão” e começa a exigir coisas que nem mesmo faz questão. Além do stress de ter alguém se esforçando demais por você, a outra pessoa vai se tornando uma extensão da sua própria idealização. Afaste-se demais da realidade e as coisas dão errado MESMO. Eu garanto.

Agradar seu namorado ou namorada é uma coisa excelente, claro. Mas rejeitar alguns de seus pedidos que não tenham nada a ver com você ou sua forma de ver as coisas é um caminho tão excelente quanto para te manter atraente. “Escuta aqui, fulano(a), eu sou OUTRA pessoa, fora da sua imaginação.” Faz bem relembrar isso de tempos em tempos.

Ou abra as pernas e faça tudo o que der na telha de quem você gosta. As pessoas que trabalham com auto-ajuda agradecem pelos seus empregos.

Ah sim… Um pequeno exemplo: Minha CARA quase me esfaqueou quando eu pedi para ela ficar mais branquinha porque eu não era muito fã de bronzeados. Só estou vivo hoje porque ela se acalmou fazendo um longo discurso sobre como ela não ia deixar seu apelo “geral” em troca dos meus gostos. Na teoria as coisas são tão bonitas…

Para dizer que eu sou um machista, novamente sem nenhuma relação com o texto, para não ter seus pedidos atendidos ou mesmo para dizer que eu escrevo um monte de palavras que não fazem sentido no final: somir@desfavor.com


Até que ponto o parceiro deve influenciar na sua estética? Depende do tipo de relacionamento, do casal e principalmente das suas prioridades. Na minha opinião, muito.

Geralmente pessoas que se cuidam costumam ser mais exigentes com seus parceiros. Tudo depende do tipo de pessoa que você escolheu para estar ao seu lado. Vamos deixar de lado esse papo hipócrita de que a beleza interior é o que vale mais e que uma vez que a pessoa gosta de você ela vai te amar não importa quanto você embarangue. Deve ser bacana conseguir acreditar numa coisa dessas, mas é muito burro quem pensa que aparência não faz diferença quando existe amor. Faz sim, até porque, pode existir amor sem existir atração sexual.

É isso aí. Pode ser que a pessoa não deixe de te amar. Mas com certeza vai olhar com mais facilidade para os lados quando seu parceiro ou sua parceira embaranga. E o conceito de embarangar é muito pessoal. Pode significar engordar, pode significar não se cuidar, pode significar muitas coisas. Suponho que quando você está em um relacionamento sério, conhece seu parceiro o suficiente para depreender o que significa “embarangar” para ele. A gente sabe o que é negociável e o que não é.

Bobo aquele que pensa que nada vai mudar se a pessoa embarangar, dentro do conceito do parceiro de embarangar, claro. Sem querer ser escrota, mas cada mulher que toma um chifre deve tirar a roupa e se olhar nua no espelho. A visão é agradável? Se não for, bem, parte da culpa é sua. EU SEI, EU SEI, beleza, cuidado e vaidade não eximem ninguém de chifre, as mulheres mais belas e mais perfeitas do mundo também são chifradas… mas vocês devem concordar comigo: muito menos do que as barangas.

Eu acho que o parceiro tem o direito de exercer grande influência na nossa estética. E acho uma grande burrice e babaquice fazer disso um cabo de guerra do tipo “em mim ele não manda, eu faço o que eu quiser”. Justamente, se você quer continuar cultivando a atração física entre você e seu parceiro, o ideal é que VOCÊ QUEIRA fazer da sua estética uma coisa atraente para ele. Sem que ele sequer precise pedir. Gente que não se cuida passa uma imagem de desleixo, fraqueza, falta de força de vontade e de acomodada. Isso não é atraente, até mesmo se você é um (hipócrita) adepto do “tesão intelectual” do Somir.

Não falo de extremos. Estou supondo que todos somos pessoas de bom senso e que ninguém vai perder sua individualidade para agradar o parceiro. Só acho que não custa nada se esforçar para agradar seu companheiro do ponto de vista estético, afinal, quando vocês começaram a namorar, estabeleceram um pacto tácito. Quando se conheceram melhor e descobriram o que é importante para cada um de vocês e ainda assim decidiram ficar juntos, é porque concluíram que eram compatíveis e podiam dar ao outro o que ele precisava.

“Mas Sally, o homem que me largar se eu engordar é um babaca, fútil, idiota que só liga para aparência”. Pode até ser. Mas é o que ele é e você sabia disso (ou deveria saber) quando se envolveu com ele. Além disso, quem disse que personalidade é MAIS importante que corpo? Eu acho TÃO importante quanto. O erro reside quando o corpo passa a ser mais importante que a personalidade, isso sim é futilidade. Mas de uns tempos para cá uma corrente (gorda) intelectualóide vem impondo socialmente que corpo é futilidade. Não é não, e o sexo agradece. Personalidade sustenta o casal fora da cama e a aparência sustenta dentro. E não se iludam, ambos são igualmente importantes.

Tudo bem que um dia o corpo se vai e o intelecto é tudo que resta. Mas, puta merda, até lá tem muitos anos de sexo pela frente. Então, vamos cuidar da aparência, né? Da aparência E do intelecto. Vai pensando que intelecto, caráter e companheirismo bastam e vai acabar como amiguinha ou amiguinho oficial do sexo oposto.

Eu não pintaria meu cabelo de uma cor que desagrade meu namorado. E quando digo isso vem uma avalanche de críticas dizendo que homem manda em mim, que eu sou passiva, que eu sou machista, etc. Vejamos… isso não quer dizer que seja o homem quem vai escolher como vai ser minha aparência, apenas quer dizer que eu vou me esforçar para, dentro das minhas possibilidades de escolha, não optar por algo que ele desgoste. Porra, quem me come é ele! Não é jogo me tornar menos atraente para quem me come! Estou ficando maluca? Para isso não preciso me anular nem virar um capacho, apenas nortear minhas escolhas para o gosto dele.

Quem quiser dar uma “cago e ando”, pode ficar à vontade. Não me prejudica. Não prejudica ninguém, a não ser o seu relacionamento. Não vejo como possa compensar ficar menos atraente para a pessoa que você gosta (= que te come). Precisa mesmo? Precisa mesmo se manter em uma condição que DESAGRADE o seu parceiro?

Infelizmente é uma verdade: para manter um relacionamento é preciso manter sexo com qualidade e com freqüência. Para manter sexo de qualidade e com uma freqüência aceitável, é preciso que a outra pessoa se sinta muito atraída por você. Para que a pessoa se sinta atraída por você, é necessário que você não se sabote tornando sua aparência não-atraente dentro dos critérios pessoais do seu parceiro. Não precisa ser miss, mas porra, também não pode cair na categoria “não-atraente”. E se para isso você vai ter que abrir mão de ser loira ou vai ter que emagrecer ou vai ter que se depilar sempre, faça-o. Relacionamento é esforço. Chega desse mito imbecilóide que prega amor acima de tudo. Vai achando que se Fulano te ama ele sempre vai te amar independente do que aconteça com seu corpo, seu cabelo e sua axila cabeluda…

Para terminar quero dizer que eu não acho que adaptações físicas ao gosto do parceiro sejam submissão. Muito pelo contrário. São prova de inteligência. Saber ceder para ganhar. Tudo se arranca mais fácil de um homem na base do sexo.

Para tentar me convencer que seu parceiro é indiferente a aparência física e te ama de qualquer forma e jamais vai te trair ou te trocar, para me dizer que eu não conheço amor de verdade e para chorar as pitangas contando como depois de sete anos de namoro com tesão intelectual seu maridinho jogou seu casamento no lixo depois de quatro meses de casada por uma cachorra carioca sarada de gosto nada refinado que ele viu uma única vez na vida: sally@desfavor.com


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