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Ele disse, ela disse: Até que a verdade nos separe?

| Desfavor | | 9 comentários em Ele disse, ela disse: Até que a verdade nos separe?

Juro!

Relacionamentos terminam. Seja lá a motivação, normalmente uma das partes tem menos convicção sobre a necessidade do fim do que a outra. Nesses casos, quem termina acaba enfrentando uma decisão entre contar a verdade sobre os motivos do término ou não.

Sally e Somir enxergam essa decisão de formas diferentes.

Tema de hoje: Quanta verdade deve existir no término de um relacionamento estável?

Pouca, se possível nenhuma. Pelo bem de quem tem de dar seus motivos e principalmente pelo bem de quem tem de ouvi-los. É normal que nesse exato momento você se coloque no papel de uma pessoa que está levando um pé-na-bunda sem entender os motivos. Pensando assim, parece mesmo uma sacanagem mentir.

Mas será que é tão normal assim não entender os motivos? Não confundam ignorar a realidade com não ter noção dela. A presunção de ignorância não combina com um namoro ou casamento. Você realmente se acha tão burro(a) assim a ponto de não perceber o que deu errado? Nem mesmo os relacionamentos que terminam com traição são tão imprevisíveis assim.

Sabem por que parece uma sacanagem mentir?

1. Porque é difícil perceber que quem cuida da sua vida é você. Jogamos muita responsabilidade nas costas de outras pessoas, e num término onde você quer muito saber toda a verdade, na verdade você quer que outra pessoa te coloque na direção certa para se eximir dessa responsabilidade. Infelizmente o problema é SEU;

2. “Como assim alguém não gosta mais de mim?” Tem que ter uma explicação incrível, não? Sinto te decepcionar, mas não precisa de muito para alguém desgostar de você. Uma série de pequenos eventos difíceis de se apontar se acumulam e tornam-se uma bola de neve de rejeição. Você não fez nada de tão errado assim, você É errado(a) para aquela pessoa. E isso dói;

3. Você acha que merece mais do que uma mentira depois de tudo que passaram juntos. Mas… vem cá… Que história é essa de ficar exigindo tratamento especial de alguém que não te quer mais? Não caiu a ficha ainda? Na verdade quem exige a verdade nesse momento só quer mais pano para a manga da conversa, na expectativa de reverter o término. É difícil aceitar o fato.

É medo de pensar. Medo de ir a fundo no que desencadeou o processo e descobrir que você não é aquela pessoa insubstituível que julgava ser. Eu mesmo odeio isso. Mas a vida é assim, você é o líder enquanto puder ser o líder. Nada é eterno, ninguém é irresistível.

Cuidado com a idéia de que não dar grandes satisfações para a outra pessoa é uma maldade. Não é. De uma forma, é dar uma chance para ela de perceber o que está fazendo de errado. Quando você “dá o peixe”, a chance dela simplesmente não entender nada e continuar fazendo o mesmo é maior ainda. Terapeutas demoram anos para conseguir essas coisas, você acha mesmo que com uma conversinha vai fazer mágica? Se você quer mesmo fazer uma boa ação para a pessoa, minta e traga toda a culpa para si mesmo. Ela vai ter o que desabafar e vai ser muito mais fácil te esquecer. Pronto. Deixa ela ir embora! Ela nunca vai mudar. E às vezes nem precisa mesmo… Relacionamentos vem e vão, essa pessoa ainda se acerta com outra mais compatível.

É muita pretensão achar que seus “toques” sobre como tal pessoa perdeu seu interesse são algum referencial benigno para que ela evolua. Quem garante que o(a) babaca não foi você?

E para quem tem de dizer por que quer terminar, por que é melhor mentir?

1. Porque a outra pessoa, na verdade, não precisa dos seus motivos reais para aceitar o término. Ela precisa entender o fim de uma relação e que pessoas diferentes pensam de formas diferentes. Não é o fato de saber que ela é muito carente, por exemplo, que vai acabar com a carência dela. E pior, se essa pessoa não achar um defeito, você adiciona MAIS uma camada de injustiça. Não é melhor para ela achar que você simplesmente não quer mais?

2. A verdade pode ser ofensiva. E o SEU referencial de ofensividade dificilmente vai entrar em acordo com o daquela pessoa com a qual você não quer mais ficar junto. E se para dizer a verdade você acabar batendo justamente numa ferida aberta? Você vai estar lá para ajudar a curá-la? É uma forma de covardia, é uma forma de deixar algumas frases na memória daquela pessoa que vão assombrá-la toda vez que a insegurança bater. Você garante que sua opinião sobre essa pessoa seja verdade absoluta?

3. A verdade pode ser uma porta entreaberta. Quando você é genérico, sobra pouca ou nenhuma possibilidade de estender o assunto. Quando você começa a falar sobre algumas das razões pela qual está se afastando, a tendência é que se argumente. O conjunto decide o término, mas nesse caso de “honestidade ética” você acaba dividindo tudo em pequenos pedaços, e não duvidem que a pessoa que não quer terminar vai se agarrar nesses pedaços que ela pensa ter controle para tentar te convencer a mudar de idéia. O terminado vai achar que o problema são os 5 quilos a mais ao invés do desleixo geral com a aparência, por exemplo.

Se você diz a verdade num término apenas para se sentir bem consigo mesmo e reafirmar na sua mente que está fazendo a coisa certa, está na cara que a única pessoa que te importa é aquela que enxerga no espelho pelas manhãs.

Vocês tem certeza que a mentira é tão nojenta assim nesse caso? Eu não. Eu acho que a verdade CONSTRÓI. Usá-la para destruir é subverter o propósito. Apesar de não ser nenhum bastião da verdade, ainda tenho alguns princípios básicos neste assunto.

A verdade mantém, a mentira termina.

Para dizer que terminou com seu(sua) ex dizendo que ia se alistar na Legião Francesa, para me dizer toda a verdade ou mesmo para dizer que não sou eu, e sim você: somir@desfavor.com


Devemos ser sinceros ao terminar um relacionamento? Sim. Isso quer dizer que devemos dizer coisas rudes e cruéis? Não.

Mentir sem dúvida é o caminho mais fácil. É o caminho adotado pela maior parte dos Cuecas. Eles acham que mentindo nos poupam de sofrimento. Eu discordo. Mentira é um artifício de pessoas medrosas ou então de pessoas que querem evitar problemas. Prefiro ser sincera, porque por mais que ele me odeie naquele momento, um dia, quando estiver recomposto, vai me agradecer por eu não ter tido pena dele. E eu gostaria que fizessem isso comigo.

Você não precisa esfregar a verdade na cara da pessoa. Mas daí a mentir/omitir deliberadamente sobre o motivo do término é um último ato de desonestidade com seu parceiro. Você está negando ao parceiro uma chance de saber exatamente onde deu errado e onde ele ou ela podem melhorar, caso queiram. Tem coisa pior do que aquela pessoa que por pena te fala os clichês “Não é você, o problema sou eu, preciso ficar um pouco sozinho” e te deixa o resto da vida se perguntando onde foi que você errou? Muitas vezes nem é culpa de alguém!

Mentir é pressupor que a pessoa é fraca demais para ouvir a verdade e se recompor. É tomar o outro por idiota, por incompetente e por fraco. Vejam bem, estou dizendo que não se deve mentir sobre O MOTIVO. Isso não quer dizer que tenhamos que detalhar o motivo e estender uma dissertação de duas horas narrando cada desdobramento desse motivo. Apenas o motivo e ponto.

Quando se termina um relacionamento com uma pessoa devemos sim uma satisfação. Negar uma explicação coerente e verdadeira é querer se eximir de uma responsabilidade assumida. Sem contar que a verdade liberta, pode doer horrores, mas liberta. Depois de saber a verdade fica mais difícil de idealizar o parceiro perdido e guardar esperanças. Acelera o processo de cura.

Sem contar que uma mentira pode ser um placebo de curta duração. Não adianta inventar um motivo lindo e que te faça sair bem se a pessoa acabar descobrindo o motivo real depois de um tempo. Pior, se acabar descobrindo por terceiros. Esse tipo de humilhação não se faz, é desleal. Garanto que a pessoa preferiria saber a verdade a passar por esse papel ridículo de “última pessoa a saber”.

Relacionamentos terminam, as pessoas tem o sagrado direito de enjoarem umas das outras, de querer novos caminhos, de desgostar. É uma merda, mas é uma merda maior ainda ficar com alguém por pena ou medo de terminar. Não vamos subestimar os outros, nem nos hiper-estimar: ninguém vai morrer porque levou um fora nosso nem por saber as razões. Nem vai chorar por meses, nem vamos destruir suas vidas. As pessoas são mais fortes do que imaginamos e não temos tanto poder assim sob a vida alheia.

E chega dessa mania egoísta (sim, é essa a palavra, egoísta) de querer sempre sair bem, sair por cima, sair bonito. Tem horas na vida que o mais digno e honesto é dizer “Fiz merda, foi mal. Fiz mesmo, valho menos que uma paçoca”. Mas que mania de disfarçar egoísmo com altruísmo! Ainda ficam dizendo “Menti porque não queria ver ela (ele) sofrerrrr”. Não queria ver sofrer? NÃO TINHA QUE TER SACANEADO A PESSOA. Um pouco tarde para ser nobre, né?

É cômodo mentir. É fácil. É prático. Mas também é covarde. Existem formas racionais e diplomáticas de contar verdades sem arrastar com a vida do outro. A mentira não é necessária. Um pouco de diplomacia, tato e sensibilidade podem ser necessários, mas mentira não. Se você já foi honesto toda uma vida com a pessoa, porra, precisa cagar na saída? Feche com dignidade, fale a verdade!

E cá entre nós, rejeição dói mesmo. E dói por mais nobre que seja o motivo. Não pensem que vão evitar o sofrimento de alguém abarrotando o término com mentiras. Não vão. Periga até piorar o sofrimento! Tem coisa mais difícil do que esquecer alguém que não nos sacaneou, que não fez merda, que não pisou na bola com a gente?

Falando a verdade se dá dignidade à pessoa. Se dá o direito de escolher com base em fatos reais como ela vai se portar com você dali para frente, como ela vai se portar com as pessoas do convívio em comum e qual a estratégia que ela entende melhor para se desvincular desse relacionamento.

Para me dizer que já que todas são loucas e reagem feito loucas ao término, não importa o que se faça, vai passar a falar a verdade, para me dizer que seu ex é tão chiclete que nem com verdade nua, crua e sangrando te deixa em paz e para sugerir temas: sally@desfavor.com


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