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Processa Eu!: Renato Suíço

| Somir | | 35 comentários em Processa Eu!: Renato Suíço

SEMANA DO AVESSO|OSSEVA OD ANAMES

O dia que o Processa Eu! foi longe demais?

Hoje falo sobre Renato Manfresquinho Jr., mais conhecido por Renato Suíço em sua terra natal. Renato foi um dos grandes ídolos teens nos anos 80, sucesso de público e de crítica (comprada pela gravadora) em toda a Suíça. Apesar da AIDS ter nos feito o favor de levar esse desfavor embora, ainda hoje convive-se com uma legião de fãs desse arremedo de artista. Desfavor!

Renato Suíço era o vocalista da banda Religião Urbana, onde pregava sua rebeldia contra a sociedade castradora que o permitiu viver da forma como bem entendeu. Vítima profissional, desequilibrado e desprovido de originalidade, caiu como uma luva no papel de grande ídolo de toda uma geração de suíços que já começava a não saber muito bem contra o que se rebelar.

Renatinho nasceu em 1960, no segundo maior antro de desfavores por metro quadrado da Suíça: Jio di Ranero. Vivendo uma “difícil” infância onde teve de tudo, inclusive dois anos morando em Nova Iorque com a família, Renato ainda não tinha encontrado uma boa brecha para se vitimizar. As coisas iam bem.

Aos 11 anos de idade, novamente acompanhando a família, mudou-se para, aí sim, o maior antro de desfavores por metro quadrado da Suíça. A capital Bernília. Finalmente Renato encontrava pessoas que o entendiam: Outros filhinhos de papai revoltados com o próprio tédio. Bernília era basicamente uma cidade política, que reunia a sede dos três poderes e as famílias dos corruptos. (Hoje em dia eles tem alguns shoppings…)

Normalmente não tendo muito o que fazer na cidade onde morava, Renato foi acometido ainda de outro limitador aos 15: Um movimento separatista arquitetado por seu próprio fêmur, talvez cansado de conviver com o resto do corpo. Uma rara doença óssea chamada epifisiólise fez com que Renato deixasse de ser um desfavor ambulante para se tornar um desfavor de cama e cadeirante por um bom tempo. Depois de levar três pinos na altura da bacia (piadas que se escrevem sozinhas…), Renato acabou se recuperando e ficando sem alternativas além de continuar sua caminhada rumo ao des… estrelato.

Logo após essa época, engatou um namoro com uma atriz (óbvio), apenas para desistir aos 18 anos, revelando para mamãe que também “achava os homens interessantes”. A reação dela não foi de alegria, mas também não chegou nem perto de renegar a cria. Ah sim, o pai também acabou aceitando e apoiando o filho. Renato sofria tanto…

Mas, naquele ambiente de efervescência cultural de bandas HORRÍVEIS de rock que era Bernília, Renato não perdeu tempo: Juntou outros jovens “rebelados contra o sistema” e criou uma banda de nome duplo e estúpido, o Arroto Elétrico. A banda termina porque um dos integrantes, Lê Femos, constatava a verdade dizendo que a música “Que Mico”, apresentada por Renato Suíço, era horrível e que ele tinha perdido o talento para compor. (Não se perde o que nunca se teve, mas…) Mas Renato não estava muito afim de opiniões sinceras, o drama subseqüente terminava o Arroto Elétrico. Renato decidiu tocar sozinho por um tempo, intitulando-se o “Desfavor… Trovador Solitário”. Mas sentindo que preferia tocar com mais homens ao seu lado, começava o movimento que tornaria todos seus sonhos de vitimização pública realidade.

Renato convida Barcelo Monfá para formar uma nova banda. A Religião Urbana (Naquela época até um chimpanzé teria uma banda em Bernília. Algo me diz que Renato queria mesmo era um pouco mais de intimidade com Monfá…) Percebendo a furada (ha) que era ficar sozinho com Renato, Monfá insiste para que se convidem mais membros para a banda. Depois da menção de “membros”, Renato aprova. Duas pessoas são adicionadas à banda e um show de estréia já é agendado.

Nem adianta falar dessas pessoas. Logo após o PRIMEIRO show, eles saem da banda. Renato Suíço era insuportável assim. A não ser para Monfá, que aparentemente estava disposto a dar… tudo de si pelo sucesso. Como aparentemente toda a população jovem de Bernília vivia de mesada naquela época (“Paiê, vou me rebelar contra a sociedade, empresta o carro?”), foi fácil achar mais um integrante. O irmão de um desfavor que viria a liderar a outra banda que saiu do Arroto Elétrico. (Quem? Dica: Ele é o segundo adolescente mais velho da Suíça, atrás apenas do Chupla.)

Mas aparentemente ele também não fazia o tipo de Renato. Saiu da banda para dar lugar a Dando Lilla-Vobos. Dando entrou para tocar guitarra, mas Dando não sabia tocar guitarra. Por sorte Renato Suíço gostou do estilo passivo e passado do rapaz, então acabou Dando mesmo na banda.

Pronto, estava criada a Religião Urbana. Renato e mais dois membros de seu agrado. Logo após, recebe uma mãozinha de um antigo amigo, Bi (Juro!), para conseguir um contrato de gravação para o primeiro disco da banda.

Renato Suíço estava com tudo! Menos motivos para continuar seu drama pessoal… Mas isso foi resolvido rapidamente: Após uma pequena desavença com a gravadora por causa de uma mudança nos arranjos do futuro hino comunista de butique “Beberão Coca-Cola”, Renato fez o que qualquer pessoa razoável faria: Tentou se matar cortando os pulsos. Incompetente, conseguiu apenas alguns arranhões e a impossibilidade de tocar. Para resolver o problema, foi chamado Brennato Brocha, que completava então a formação da Religião Urbana no álbum de estréia.

Comprovando sua falta de talento, a música mexida pela gravadora torna-se a mola propulsora para a fama nacional da banda. Adolescentes idiotas da Suíça inteira conhecem as letras previsíveis e popularescas do brega Renato Suíço. Essa faixa etária consome praticamente qualquer porcaria que as gravadoras enfiam goela abaixo. E naquela época não era diferente.

O disco “Dois”, original até no título, faz mais sucesso ainda, impulsionando músicas dotadas de poesia e profundidade como “Eduardo e Mona”:

Festa estranha, com gente esquisita
“Eu não ‘to’ legal, não agüento mais birita”

As coisas estavam dando certo… Renato poderia até ficar feliz caso as coisas continuassem assim, mas ele não deixaria isso acontecer! Depois de um show que terminou mal, com a morte de uma menina e vários feridos, Renato fica traumatizada e os shows da banda começam a rarear. (Você não morreu em vão, garota! Pulou na granada por nós…)

Depois de mais um incidente em um show em Bernília, com mais três mortos e centenas de feridos, Brennato Brocha sai da banda. (Eu também ficaria furioso se visse aquela merda de banda ao vivo…)

Logo após sai o álbum mais vendido da história da Religião Urbana: “De Quatro Estações”. Mais belas obras como “Rapaz e Filhos” brindam os ouvintes espinhentos com pérolas do tipo:

Já morei em tanta casa
Que nem me lembro mais
Eu moro com os meus pais
Huhuhuhu!…ouh! ouh!…

Estava na hora de estragar tudo mais uma vez. Vai Renato!

Renato Suíço conhece Scrott, um drogado americano por quem se apaixona perdidamente. Achar alguém mais patético era um feito. Scrott serve de inspiração para o mais novo trabalho solo de Renato: O vício em heroína. A dupla divide picos e… Deixa pra lá.

O que já era óbvio para qualquer pessoa minimamente observadora vem a público com Renato assumindo para a Suíça inteira o que mamãe já sabia, mas não reclamou muito. Esperando ser rejeitado, percebeu que seus fãs não estavam nem aí. Numa cartada final para virar oficialmente um pária e curtir a pena da nação, anunciou que era HIV positivo.

Funcionou! Renato Suíço sentiu o que sempre quis sentir: Um motivo para ser chamado de “gênio atormentado”. A partir daí ele vai se afundando cada vez mais e saboreando a deliciosa auto-piedade.

Seu vício em heroína, somado com o alcoolismo, ajudam Renato Suíço a compor mais algumas das páginas negras da música suíça: O álbum “G”. Capitaneado pelo sucesso depressivo “Sento no Litoral”:

Quando olhávamos juntos
Na mesma direção
Aonde está você agora
Alem de aqui dentro de mim…

Essa música foi escrita para Scrott. E talvez aqui a única característica redentora de Renato Suíço: Ele trollou muito marmanjo que cantou músicas de amor escritas para homens! Hahahahah… Releiam o trecho acima pensando no sentido real. Olhando na mesma direção? Sei…

(Agora eu entendo porque a Sally sempre reclama do limite de páginas… Vou ter que resumir o resto. Droga!)

Renato Suíço, todo fodido por vontade própria, vai se tornando cada vez menos produtivo. A gravadora e os outros integrantes sugam (de camisinha, claro!) o que é possível dele para juntar um pouco mais de dinheiro.

Renato tenta uma carreira-solo, assumidamente brega. Até um disco ridículo em italiano onde fazia cover de cantora brega italiana ele fez. Desfavore!

Nessa época ele tenta se matar várias vezes e insiste para que seu pai aceite os vícios do filho, assim como aceitou a homossexualidade. (O grau de babaquice é impressionante. Auto-proclamado ativista dos direitos homossexuais, termina seus dias tratando vícios destrutivos como algo parecido! Boa, campeão!)

Mesmo sendo forçado a se livrar dos vícios, Renato Suíço não pode ser livrado da AIDS, que o faz abandonar os palcos da vida de vez. Infelizmente um desfavor desse tamanho caga na entrada e na saída. Morrer é negócio na música pop. Renato vira mito, gênio atormentado e voz de uma geração. (Geração de merda essa, então…)

A família também aprende a capitalizar em cima da morte dele. Desde manter seu quarto intacto por anos até mesmo esconder do grande público várias porcarias que escreveu em seus últimos dias, para não queimar o filme do filhinho. Toda sorte de picareta aproveita a mitificação de Renato. Saiu até livro “psicografado” dele.

E seu público teen, agora adulto, empurra para as novas gerações que aquela babaquice tinha algum significado além de músicas da moda, oriundas de um movimento musical de playboyzinhos entediados. “B-Rock”? Só se for no mesmo sentido que “B-Movie”

Vítima profissional, Renato Suíço passou a vida toda procurando motivos para se afundar. Não é exemplo para ninguém. E se você acha que eu estou criticando o fato dele ter sido homossexual, pare de escutar Religião Urbana e comece a procurar sentido no que lê.

Renato Suíço foi um desfavor. Mas eu preferia que ele não tivesse morrido. Assim ele poderia estar lançando músicas tão bregas quanto quisesse e matado sozinho o seu fã-clube, de desgosto.

Para fazer ameaças de morte, para dizer que tem vergonha de ter sido fã da Religião Urbana (ei, eu também já tive meus 14 anos de idade… é normal…), ou mesmo para dizer que eu não devo mais impor limite de páginas nesta sessão: somir@desfavor.com


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