Sally Surtada: Diário de um término.
| Sally | Sally Surtada | 12 comentários em Sally Surtada: Diário de um término.
Já falei muitas vezes sobre levar um fora, sobre a volta por cima e sobre o que fazer para superar mais rápido, mas tem tanta gente pedindo, que vou retomar o assunto. Eu acho que o assunto já está meio batido, mas como quem manda no Sally Surtada é o meu público, segue um diário de um fora retratando o sofrimento que pessoas mentalmente perturbadas como eu passam. Se você não se identificar, parabéns, você tem uma cabeça saudável.
DIA 1 – Você acabou de levar um fora, ou teve que dar um fora em alguém que ainda gosta. A ficha ainda não caiu direito. Você chora, mas é mais de susto e de pena de você mesma, de pensar em tudo que vai ter que passar novamente até começar a namorar com outra pessoa. Você está enjoada, não sente fome e está meio anestesiada, mas já prevê que dias negros virão. Quando chega a noite todo o sofrimento se potencializa e você chora litros e nem sabe muito bem porquê.
DIA 2 – Ao acordar você tem essa sensação horrível de lembrar que está muito triste e que não está mais com a pessoa. Acorda mal. Começa a bater aquele comichão no âmago do seu ser de vontade de ligar para ele. Mesmo que não seja para voltar. Para dizer qualquer coisa, para gritar com ele “Porque merda você fez isso comigo, seu filho duma puta?” ou coisas piores. Você mantém a esperança secreta de que ele ligue durante o dia, arrependido, depois de descobrir o quanto ele te ama e o quanto você é especial. Passa o dia com o celular na mão. Não come quase nada. Se for fim de semana, passa o dia em casa com pijama. Você está com a cara inchada de tanto chorar, se olha no espelho e constata que parece um Shar-pei. Quando chega aquela hora do dia em que ele sempre te ligava, bate uma depressão horrível. E quando chega a noite tudo piora. Você chora, liga para suas amigas e chora, vai para o Orkut e chora.
DIA 3 – A esperança secreta de que ele ligue passa a ser declarada. Você assume que está esperando um telefonema dele, faz promessa, negocia com Deus e não se separa do telefone nem com intervenção cirúrgica. Ou não come o dia todo, ou enche o rabo de comida. Ao final do dia, como ele não entrou em contato, você pensa em mandar um torpedo ou e-mail pedindo para conversar. Você vê alguma coisa que ele gostaria, lembra dele e chora. Você tem a certeza de que nunca mais vai ter nada tão especial com ninguém e que nunca mais vai conseguir gostar de ninguém. Você pega aquela blusa usada que ele esqueceu na sua casa e fica cheirando, porque ainda tem o cheiro dele, tal qual cachorro, que se acalma com uma blusa com o cheiro do dono. Como ele não liga, você começa a se perguntar se ele está com alguma vadia.
DIA 4 – Você cede à pressão social e sai com as suas amigas para “se animar”. A saída é uma merda, você pensa nele o tempo todo e só quer voltar para casa. Na volta, ela dizem “Viu? Não está se sentindo melhor?” e você sorri amarelo. Você sonda os amigos em comum discretamente para ter notícias dele. No fundo, lá no fundinho, você torce para que aconteça algum motivo de força maior te coloque obrigatoriamente frente a frente com ele. Você escuta qualquer música romântica e chora, alias, você escuta qualquer música e chora, até mesmo “atirei o pau no gato”, versão funk-pornográfica e chora. Você vê comercial de margarina e chora. Você lê os últimos torpedos que ele te mandou quando ainda estavam juntos e chora. Você só consegue lembrar das qualidades dele, os defeitos se apagam por completo da sua memória. Você associa tudo a ele: o que come, onde vai, o que assiste na TV… “Fulano adorava essa comida, Fulano adorava esse programa, esse filme conta nossa história” e etc. A hora de dormir e a de acordar são as piores.
DIA 5 – Você sente o peso da ausência dele. Se antes você chorava de susto, medo ou pena de você mesma, agora você chora de saudade. Você sente literalmente uma dor no peito e descobre que não é metáfora de poeta, que o coração realmente dói. Você convive com um nó na garganta e fica se perguntando porque teve que ser assim. Quando você é obrigada a sair na rua, acaba vendo ele em tudo quanto é canto e tem taquicardia. Você dá uma passadinha na rua dele depois do seu trabalho, se for perto da sua, como quem não quer nada, para ver se as luzes da casa dele estão acesas. Se estiverem, você chora porque acha que ele está com uma vadia ali, se não estiverem, você também chora porque acha que ele saiu para a gandaia.
DIA 6 – Ok, você aceitou que acabou. A raiva e a revolta dão lugar a uma tristeza profunda. Bate um desânimo monumental. Você se sente um lixo, um cu sujo e mal lavado. Casais felizes pelas ruas te irritam. Você descuida da sua beleza, as unhas já estão descascando e você não está nem aí, afinal “para quem” você vai se cuidar? Para você mesma não é uma resposta no momento, você ainda não tem sanidade para ser racional. Você continua monotemática, só fala dele com as suas amigas. Você acha que Deus está te sacaneando e não entende porque. Este estágio pode durar vários dias.
DIA 7 – Quando finalmente você sai da inércia contemplativa do dia anterior, vem um misto de raiva e euforia. Você vai ao shopping e compra coisas que não precisa e que provavelmente nunca vai usar. Você sai com as amigas, enche a cara e fica com um sujeito estranho que responde pelo apelido de “Beto Taturana”. Você tem energia para reagir mas não sabe muito bem como, então faz todo tipo de merda. Você compra mais roupas, bolsas e sapatos idiotas. Você chega ao cúmulo de ir a uma vidente/astróloga/cartomante e similares para saber se ele vai voltar ou se vai aparecer outro homem na sua vida.
DIA 8 – Você já fala nele sem chorar. Ainda guarda uma esperança que ele ligue, mas começa a se preparar para o caso dele não ligar. Faz alguma mudança estética: se matricula em academia, corta ou pinta o cabelo, faz clareamento nos dentes, bronzeamento artificial ou tudo isso junto. Você senta e faz uma lista de tudo que odeia nele, mas não consegue lembrar de nada. Você sente vontade de começar a namorar um sujeito bem mais ________ do que ele (complete de acordo com o complexo dele, o que mais doeria nele: bem mais rico, bem mais sarado, bem mais inteligente, etc) só para esfregar na cara dele. Você ainda sonha com ele quase todas as noites. Você já cogita a possibilidade de haver uma vida sem ele, mas ainda tem dúvidas se essa vida pode ser divertida.
DIA 9 – Você aluga filmes feministas ou que falem de pessoas que superaram o fim de um relacionamento muito bem, como “Clube das Desquitadas”, “Avassaladoras” e similares. Você começa a fazer rituais de passagem. Você escreve um e-mail desaforado para ele desabafando tudo que sempre quis dizer, para nunca mandar (e que algumas de nós são imbecilóides o suficiente para mandar por engano ou sem querer). Você lê livros de auto-ajuda como “Ele simplesmente não esta afim de você” e “Quando termina é porque acabou”. Quando você pensa que está tudo ótimo e que já está forte novamente, você encontra com ele ou fica sabendo de alguma coisa dele que te desmonta de novo e você achar que voltou à estaca zero. Eles tem um sensor nos testículos que apita quando sua ex está quase esquecendo-o e nesse momento eles pegam o telefone e nos ligam, para fazer a manutenção desse nosso sofrimento miserável, porque eles nos querem apaixonadas por eles para sempre.
DIA 10 – Você traça o perfil mental do seu futuro namorado, repleto de qualidades que o anterior não tinha, com expectativas tão malucas e altas que jamais serão alcançadas. Você dá um nome para o seu projeto de homem e começa a procurar esse modelo fechado idealizado trilhando um caminho para a frustração. Você ainda sente uma pontinha de raiva e encara ficar com outra pessoa uma vingança “Ele vai ver só, vou arrumar um homem bem lindo!”. Você ainda faz muitas coisas pensando nele, mas não assume. Você cria coragem para tirar o status “namorando” do seu Orkut e assumir ao mundo que está solteira. Eventualmente, você pode queimar as fotos dele como um marco de uma nova vida, para exorcizar o ex.
DIA 11 – Você acha que está forte o bastante para devolver as coisas dele e pegar as suas de volta. Você constata que não está quando se encontram para destrocar as coisas e percebe que ele não está arrasado e que a vida dele continuou sem você. Você volta para casa e chora, e depois come três barras de chocolate e estoura o cartão em uma calça de couro que você nunca usará. Você começa a se sentir perseguida pelo destino, que parece querer te fazer lembrar dele o tempo todo. Você tem a impressão de que todo mundo que você conhece tem o nome dele. Você vê uma novela mexicana apenas por preguiça de trocar de canal e percebe que a história de Ricardo Augusto e Fernanda Regina se parece com a de vocês.
DIA 12 – Você parte para o “denegrir para esquecer”. Dessa vez você consegue fazer uma lista das coisas que odeia nele. Você olha no espelho e percebe que embarangou por causa desse sofrimento (que te fez encher o rabo de chocolate). Você faz uma dieta maluca para emagrecer, a dieta do queijo (aquela mesma que você fez no primeiro encontro, do texto Bastidores): passa o dia todo sem comer nada e quando sente que vai desmaiar, come uma fatia de queijo. Você vai ao salão e manda repicarem seu cabelo. Quando perguntam se você tem certeza, você ameaça o cabeleireiro com a tesoura e grita “REPICA, PORRA!”. Você sai do salão chorando porque seu cabelo está parecendo um algodão-doce.
DIA 13 – Você sente vontade de ligar para ele só para saber se ele está vivo, está bem ou está precisando de alguma coisa. Mentira, você também quer ligar e gritar “COMO VOCÊ FEZ PARA ME ESQUECER TÃO RÁPIDO E TOCAR SUA VIDA COMO SE NADA, SEU FILHO DA PUTA”, mas você tem controle para não fazê-lo. Ao invés disso, liga para sua melhor amiga e grita “COMO ELE FEZ PARA ME ESQUECER TÃO RÁPIDO E TOCAR A VIDA DELE COMO SE NADA? ESSE FILHO DA PUTA NÃO SOFRE NÃO?” e termina rogando uma praga que envolve cu pegando fogo. Por raros momentos do dia você esquece que ele existe e fica livre dessa dor insuportável. Se você souber rezar, você reza para que esse sofrimento passe e não volte nunca mais. Você faz um discurso recalcado dizendo que nunca mais vai se deixar gostar de ninguém, que está cansada de sofrer e que amar não vale a pena, que irá por água abaixo em menos de um mês.
DIA 14 – Você estava finalmente conseguindo esquecer que ele existe. Na maior parte do seu dia você não pensava mais nele. É aí que ele liga para dizer algo bem cretino como “Estava com saudades” (Tecla SAP: não estou conseguindo comer ninguém, vou apelar para você). Você se desarma e joga fora todo o progresso que fez, vai encontrar com ele, faz planos, se entrega e ao final escuta que ele “está confuso” e que não acha uma boa idéia vocês voltarem. Você volta para casa mais lixo do que no dia do primeiro término, porque além de rejeitada, agora você tem duas orelhas de burro na cabeça. Você procura uma mãe de santo e pede que ela faça com que o pau dele fique verde, apodreça e caia e quando ela lhe diz que isso não é possível, você a ofende e toma uma praga. Você torce para seu ex ser muito chifrado e muito sacaneado pela próxima namorada para quem sabe assim se arrepender do que fez e te dar valor.
DIA 15 – Dói menos. Nem você sabe ao certo como e quando aconteceu. O fato é que lá no fundinho você sabe que dói menos. Você sente que tem uma mola no fundo do poço e tem que decidir se pula de volta para fora e encara um dia a dia normal e um processo complicado de conquista, paquera, flerte e eventuais futuros namoros ou se isso é muito trabalhoso e assustador e ficar no fundo do poço recebendo conforto e carinho das pessoas próximas é mais fácil. As que escolhem pular de volta ainda dão uns tropeços, mas no fim das contas, depois de ralar muito, se saem bem e acabam reconstruindo a vida afetiva, apesar do trabalho enorme. As que ficam no fundo do poço cultivam o sofrimento e esperam a compaixão eterna dos outros, camuflando sua covardia de “amor de verdade, se você esquece alguém é porque não era amor”.
DIA 16, 17, 18, 19, 20… – A que pulou para fora do poço conhece um sujeito bacaninha de uma forma improvável e sente aquele frio na barriga novamente. Experimenta um misto de alívio (por saber que a vida continua como antes) e medo (por saber que nada é eterno e esse começo vai ter um fim, e conseqüentemente, mais sofrimento). No entanto, segue em frente e vive, entoando o mantra da Tia Sally: “Só tem medo de cair quem não sabe levantar”. A que optou por ficar no fundo do poço se ofende com as amigas quando elas mandam “reagir e sair dessa”, ataca, se sente incompreendida, porque no fundo está frustrada ao constatar que toda a atenção extra que recebeu não será eterna. Se convence por mil mecanismos que ama a pessoa e que ninguém a entende porque está cercada de pessoas que não sabem amar. Sufoca os amigos e acaba ficando sozinha e/ou cercada por pessoas igualmente dodóis da cabeça e rejeitadas. Surta por não ter a atenção de ninguém e começa a apelar para golpes baixos, como invadir a privacidade do ex, mentir (geralmente é o clássico “estou grávida”) e usar de outros artifícios igualmente manjados e babacas para conseguir mais um pouquinho de atenção, consideração, compaixão e pena. A principio, ninguém percebe. Com o tempo, as pessoas vão percebendo e se afastam.
Para me acusar de não saber amar, para pedir mais algum outro diário envolvendo a vida de uma mulher e outro assunto e para me contar quais dessas coisas você já vivenciou: sally@desfavor.com
Nossa! Sei que faz tempo que este texto foi escrito, mas aconteceu exatamente isso comigo. Quando ele terminou comigo, perdi 6kg em 13 dias. No 14º dia tinhamos a despedida de um amigo em comum. Eu fui bem vestida, em parte porque queria reconquistá-lo, mas também por mim mesma. Nesse dia ele pediu pra voltar, disse que precisávamos mudar e tal. Passamos uma noite maravilhosa e no dia seguinte ele disse que não sabia se queria voltar. Senti-me horrível, com nojo e disse que não o queria ver pintado de ouro. Não fiquei como quando ele terminou, mas me deu raiva de me apaixonar. Queria ser fria com os caras, tenho amigas assim. O pior é q sei que daqui a pouco vem o "frio na barriga" outra vez…
Bjos e adoro o blog!
hahahahaha é extamente desse jeito… eu fiz tuuudo… TUDOOO o q ta nesse post!!
Comprei coisas sem noção nenhuma que eu nunca usaria na minha vida.. nos primeiros dias eu relaxei, fiquei horrivel mesmo..engordei 7 kgs!
Depois decidi mudar a cor do cabelo.. de morena eu virei loira.. rs fui para uma balada funk (odeio funk) e fiquei com um cara horriiiveeel com um apelido bem estranho tambem.. depois descobri que o cara era ladrão, um tempinho depois coloquei na cabeça: comooo assim ele ja me esqueceu? e ja ta namorando outra? que filho da puta.. quero q ela seja uma cretina com ele, assim como ele foi comigo…hahahaahah estou me recuperando ainda.. me cuidando mais.. afinal: VOU ARRUMAR UM BEM MAIS GOSTOSO DO QUE ELE!! rsrs
bjss
Acreditem ou não, os homens também passam por isso… Pelo menos alguns… Muito verdadeiro esse texto, e muito engraçado! Raxei! hahahaa….
Nossa! Mto bom saber q não sou a única a agir/penasr assim… aiaia
Sensacional o post… Me reconheci em várias etapas hauhauahauhaua Bjs
É exatamente o que acontece comigo,só que no lugar de Dia 1,Dia 2…
é Semana 1,Semana 2….
Nossa!… Eu devo ser bem rapidinha, porque meus casos de cornice são na sequência: 1-10-12-14 e logo logo já tô no 20 feliz da vida. Minhas dores de penabunda levam no máximo 1 semana, até eu me interessar por outro.
REPICA, PORRA!
hauhauhauhauhauhaahauhahuuha
Aai.. aguentei ler só até o 5º dia :P
eauioaueioaeu
:DD
É muito reconfortante saber que nao sou a unica a passar exatamente isso descrito e que com certeza é uma fase!
Sally, parece que tivemos idéias gêmeas hoje. Acabo de escrever meu post, publico, venho ler meus blogs de costume e vejo o seu post…
Acabei de romper um quase relacionamento pela inabilidade do candidato se expressar com mais clareza e antes aos medos desmedidos, já que eu sempre deixei claro o que buscava e o que esperar de mim.
Felizmente meu rompimento pode ser abreviado em dois dias. Um de choro, e um pra recuperação total.
Por óbvio não o esqueci ainda.
Mas ter forçado com que ele abreviasse o que aconteceu entre nós me trouxe uma calma e uma paz que superam a agonia que eu sentia e a felicidade breve que tinhamos juntos.
Ainda há uma janela para arrependimento, por alguns dias, mas não ponho fé.
Agora é curar as feridas, poupar a cabeça, seguir em frente e me trancar na torre. E rezar por melhor sorte no próximo…
“Eles tem um sensor nos testículos que apita quando sua ex está quase esquecendo-o e nesse momento eles pegam o telefone e nos ligam, para fazer a manutenção desse nosso sofrimento miserável”
FATO!
Isso aconteceu comigo, ate o dia 7, ai eu tive a pachorra de pedir pra voltar, voltamos e foram outros 8 meses de inferno na terra, com aquele cretino… mas ai eu ja estava calejada o suficiente. Quando terminamos pela segunda vez eu soube que seria definitivo.
No dia seguinte eu coloquei TODAS as roupas pra lavar, blusas, calças, lençóis, edredom, todas as toalhas de banho, roupas de inverno que só haviam sido usadas uma vez, sapatos e ate algumas bolsas. Mudei os móveis do quarto de lugar, deixei meu cabelo crescer (o fdp q gostava dele na altura dos ombros), passei a usar saltos (ele era um nanico! 10 cm menor q eu), hj me pergunto como pude ter sido tao estúpida… mas no fundo sei q valeu a experiencia.
Arrumei outro namorado, q é o oposto de todas as coisas que me incomodavam no anterior (nao, nao é impossivel).
Não mantenho amizade com ex, acho q ele não é digno de ser meu amigo.