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Desfavor da semana: Ex-gay que eu sei.

| Desfavor | | 10 comentários em Desfavor da semana: Ex-gay que eu sei.

SOMIR: Sally? Tive uma idéia para usarmos de desfavor da semana…
SALLY: O público suge…
SOMIR: Tem um viado de novela que vai deixar de ser viado no final da novela!
SALLY: Que desfavor!
SOMIR: Concordo!
SALLY: Mas não vai ficar escrevendo “viado” no seu texto.
SOMIR: Ué, mas ele só vai deixar de ser depois que eu escrever a coluna.
SALLY: Aff…


Notícia: http://televisao.uol.com.br/ultimas-noticias/2008/12/17/ult4244u2167.jhtm

Comentários:

Quem leu a minha coluna sobre piadas de mau-gosto sabe que eu sou preconceituoso. Não tenho nenhum orgulho disso e provavelmente vou soltar alguns absurdos. A Sally deve ter aprendido a rezar só por causa dessa coluna.

Mas ela pode ficar tranqüila, como sempre eu vou buscar outro enfoque sobre o assunto. Pra mim toda essa história de mudar a orientação sexual de um personagem, irritando os grupos de defesa dos gays, não passa de mero golpe publicitário. Gera discussão e aumenta a audiência. Eu bato palmas para o autor da novela, adoro uma trollada.

Então qual é o desfavor da notícia em questão?

“A decisão de “transformar” o personagem homossexual (..) foi tomada pelo autor João Emanuel Carneiro com base em pesquisas de aprovação.”

Perceberam o problema?

Eu DUVIDO que o autor da novela seja RETARDADO a ponto de achar que existe ex-gay. Mas o público da novela, esse sim é. Não estou falando de pessoas específicas, estou falando da massa. O público, como entidade, tem uma quantidade incrível de merda na cabeça… E para quem não sabe ou nunca parou para pensar nisso, um grupo sempre se nivela por baixo.

Preconceito é uma coisa muito confortável quando se tem apoio. Nada mais natural que baseado em pesquisas de aprovação, o autor de uma novela descubra que existe rejeição a um personagem homossexual numa novela. Precisava mesmo fazer a pesquisa?

A nossa sociedade não gosta de homossexuais, mas ADORA UMA BICHA!
A bicha das piadas, a bicha melhor amiga, a bicha que cabeleireira, a bicha que paquera o mocinho, a bicha que agarra o vilão… Essa bicha é uma personagem famosa, um exagero, uma sátira aos homens que sentem atração por outros homens. Quem nunca se divertiu com uma personagem bicha louca desvairada? Eu acho hilário!

A bicha, o viado, o baitola, o boiola, o tricolor… Dê o nome que quiser, mas essas figuras são uma forma de categorizar o homossexual como algo estranho, diferente e ridículo. O homossexual pode estar do seu lado sem você perceber. A bicha? A bicha pode ser notada à distância, a bicha anda com um alvo desenhado no peito para todo mundo se sentir mais seguro. Ah sim, o homossexual tem relacionamentos, a bicha quase sempre está sozinha, à procura e fracassando. Adivinhem só quem é mais “perigoso”?

Então, estava na cara que o público ia agir de forma preconceituosa em relação ao homossexual da novela. E sabem qual é a parte mais curiosa? Aposto que se o público NÃO GOSTASSE da personagem, jamais teria pedido para ela terminar a novela como heterossexual.
(Antes que crie confusão: Personagem é substantivo feminino…)

Portanto, pedir para que o Orlandinho termine a história com uma mulher é um PRÊMIO do público para ele. “Gostamos tanto de você que você merece ser curado para ser feliz para sempre.”

Sim, curado. Esta é a mentalidade do grupo. Os indivíduos até podem ser mais evoluídos, mas quando se juntam, voltam uns 200 anos no tempo.

Se Orlandinho fosse uma bicha, o público não pediria para ele mudar de opção sexual.

O desfavor não termina aqui.

Ouvir a opinião do público para decidir os rumos de personagens de novelas é uma prática cada vez mais comum. Essa democratização das decisões criativas é uma merda sem tamanho. Quanto maior o público, mais burro ele fica. É mais ou menos como contratar uma pessoa doente para dirigir uma fábrica de medicamentos. Só porque desfruta do que é produzido a pessoa tem alguma capacidade de produzir?

Quem quer que tenha inventado essa mania de deixar os telespectadores terem participação numa novela esqueceu que foi JUSTAMENTE ignorando o gosto popular que a Globo cresceu o tanto que cresceu. Vínhamos da época do rádio, e as radionovelas eram porcarias à lá novelas mexicanas. O público gostava disso. O público sempre vai gostar de porcaria, mas não quer dizer que o público SÓ gosta de porcaria.

A Globo inventou um novo estilo de fazer novelas, subiu o nível e se arriscou muito. Funcionou. Ficamos blindados contra o desfavor que é o resto da televisão latino-americana e nasceu um padrão de qualidade sem precedentes no Brasil.
(Claro, as mutretas, a puxação de saco do governo e a incrível cobertura do território nacional ajudaram… Mas que a Globo está acima das outras abertas, está.)

O público só é capaz de pensar e pedir porcarias porque anda no passo do mais lento.
(Estou falando de mídia de massa, antes que nossos leitores fiquem ofendidos…)

Mas, se você der conteúdo de qualidade para o público e tiver CORAGEM de mantê-lo, o público vai acabar aceitando. Qualidade não combina com quantidade. Quem quer agradar a todo mundo fica previsível e entediante. (E burro. Ex-gay? Que desfavor…)

Eu não assisto novela. Até assistia alguns anos atrás, mas desde que começaram a mexer nas tramas por causa de audiência e aprovação, ficou tudo chato demais. Nivelou por baixo. Eu não quero assistir um programa escrito por um bando de gente sem criatividade.

Como eu não caguei na entrada:

Gente sem criatividade e sem o menor senso de humor para ser preconceituosa. Se eu escrevesse a novela, faria o tal de Orlandinho fazer uma operação de troca de sexo e mudar o nome para Verônica Furacão.

Essa preocupação com a opção sexual dos outros é uma viadagem.
Enquanto os gays não estiverem dando a MINHA bunda, eles que se divirtam!

Pega-pega, esconde-esconde e pula-pula: somir@desfavor.com


Não vejo novelas. Nunca vi. Não estou tirando onda, realmente não vejo, nesse horário estou dando aulas. Mas o desfavor desta semana envolve uma novela, então, tive que fazer um extenso trabalho de pesquisa e ver uma dezena de vídeos a esse respeito. Ainda assim, se eu errar algum nome, data ou situação, me perdoem. O importante é o que vou dizer na essência da questão.

Aparentemente, a novela “A Favorita” estaria mostrando um personagem que é homossexual mas que ao conviver e experimentar uma relação heterossexual vai deixar de ser homossexual e terminará a novela heterossexual.

A abordagem que tenho visto do tema, salvo honrosas exceções, se resume ao fato de que a Globo estaria mostrando que é possível “curar” um homossexual, como se isso fosse uma doença ou como se fosse uma questão de ESCOLHA. Algo do tipo “só era gay porque não tinha provado uma boa mulher”. Sem dúvidas, um desfavor tremendo. Mas o grande atrativo deste blog é que a gente sempre enfia o dedo mais fundo na ferida, então, vou além desses argumentos.

Na minha dolorosa pesquisa, tive que assistir um vídeo da Ana Maria Brega entrevistando o ator que faz o personagem gay: Iran Malfitano. Sobrevivi. Mas tenho algumas considerações a fazer. Vejamos um trecho da entrevista: “Na rua é 100% de aprovação. O público, que ainda tem muito preconceito com o homossexualismo – principalmente o masculino – está adorando o Orlandinho. Todos abraçaram a causa e querem que ele seja feliz!”. Ok, Iran. Volte para a patinação no gelo do Faustão, porque calado você é ótimo! Para começo de conversa, o termo homossexualismo é um desfavor, melhor falar em homossexualidade, porque ISMO designa uma doença. Vocês devem estar pensando “Mas ele é ator, ele não sabe disso”. ESTUDE a fundo o mundo do personagem (eu sei que personagem é feminino, mas eu acho feio, por isso vou continuar escrevendo O personagem).

Mais adiante, ele disse que “Teve uma pesquisa na internet e o público, em peso, quis que Orlandinho ficasse com ela”. Hã? Então o desfavor não é só da Globo, aparentemente é da população brasileira no geral! 89% dos internautas acham que ele tem que deixar de ser homossexual e ficar com a mulher, uma tal de “Céu”. Assim a Suíça vai ficar com inveja da gente…

Mas a coisa piora quando o patinador tenta explicar porque o personagem vai deixar de ser homossexual: “Orlandinho encontrou na Céu um porto seguro e o desejo foi conseqüência”. Iran, meu querido patinador do Faustão, quer dizer que quando encontramos um “porto seguro” o desejo é conseqüência? Tenho vários amigos e amigas que são meu porto seguro e não tenho desejo por eles. Uma mamãe, um papai ou uma vovó que acompanham este desfavor de novela acabam pensando que seu filho homossexual pode se tornar heterossexual caso experimente uma relação bem sucedida com uma mulher. Situação muito bem narrada no blog “o amor não tem sexo”. Para quem pensa assim, eu devolvo a argumentação: VOCÊ, HOMEM HETEROSSEXUAL, MUDARIA DE OPÇÃO SEXUAL E VIRARIA GAY SÓ PORQUE CONHECEU UM GAY BACANA?

Sexualidade não tem absolutamente nenhuma relação com companheirismo. Tenho uma grande amiga (uma amizade de vinte anos, sem uma única briga!) que é meu porto seguro. Sempre que desabo é ela quem me ampara. E ela sempre o fez muito bem. E nem por isso surgiu, “como conseqüência natural” disso uma atração sexual entre nós.

Ainda durante a entrevista sofrida, onde por sinal, o patinador desmunhecou sem parar, pude ouvir a seguinte pérola: ele disse que seu personagem não é gay, porque nunca foi às vias de fato, nunca consumou, nunca deu nem um beijo em outro homem. Ok, então. O determinante para ser gay é CONSUMAR? Existem gays que nunca tem coragem de assumir e/ou consumar, mas continuam sendo homossexuais. Aliás, é justamente por isso que existe a expressão “sair do armário”. Será que o ator pensa que a homossexualidade não está embutida na personalidade do indivíduo? Que depende apenas de atos externos?

Também justificou a escolha sexual do personagem dizendo que por uma série de fatores (entre eles, o personagem ser rico!) que o levam a um inconformismo com as mulheres, ele parte para os homens. Olha, sinceramente, mais inconformada do que eu com homem não existe, e que eu saiba, isso não fez com que eu parta para as mulheres. Infelizmente. Queria muito gostar de mulher. Mas não consigo.

Então fica combinado assim: se um gay casa com uma mulher e ela se mostra uma parceira bacana, isso vai mudar a opção sexual dele. Boa sorte a todos os homossexuais do Brasil, que vão ter que lidar com essa pressão enorme.

O bacana foi quando, ao final da entrevista, o patinador conta que seu personagem termina mesmo com a mulher: Ana Maria Brega e aquela arara irritante que eu não sei o nome gritam e comemoram. Ana, parafraseando você mesma (coisa que eu nunca achei que fosse fazer na minha vida), eu digo: “Se você desaparecesse da face da Terra, faria um bem à humanidade”.

A Rede Globo diz que não tem preconceito. Evidente, né? Vai dizer o que? Mas já vem fazendo desfavores como este faz tempo! Em diversas novelas ameaça mostrar um beijo gay e na última hora o beijo é censurado. Evidente que eles sabem desde o começo que não vai ter beijo nenhum, mas fazem o anúncio para lançar a dúvida no ar e obter audiência. Isso me dá nojo.

Falar é fácil. Será que alguém acha que um homossexual o é por opção? Será que alguém nasce e pensa “Quero ser diferente do socialmente convencionado, assim vou ser bem discriminado, passar por diversas dificuldades e constrangimentos”. Meu povo, se existisse alguma forma de um homossexual se poupar de todo o sofrimento que enfrenta, é educar a sociedade e não mudar sua escolha sexual.

Porque os homossexuais não se mobilizam, hein? (aliás, porque ninguém neste país se mobiliza?). Não digo mandar cartinha indignada não! Façam alguma coisa GRANDE! Vocês estão ganhando poder, são bem sucedidos profissionalmente, tem poder econômico! Boicotem! Façam ouvir a sua voz, minoria é o caralho! O mundo é gay!

Para elogios, críticas, sugestões de temas e aulas particulares de dança: sally@desfavor.com


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