Prêmio Darwin

Sabe aquele momento em que uma pessoa faz uma besteira tão bizarra que você pensa “é muito imbecilidade para uma pessoa só, merecia um prêmio!”. Pois bem, esse prêmio existe. Desfavor Explica: Prêmio Darwin.

O Prêmio Darwin é como se fosse o Nobel da estupidez, conferido a pessoas que, com um ato idiota, acabaram por impedir que seus genes idiotas sejam passados adiante. O nome homenageia Charles Darwin, o criador da teoria da evolução, em uma alusão ao fato de que estas pessoas melhorarão a raça humana não passando seus genes imbecis para frente.

O Prêmio Darwin começou oficialmente em 1991, organizado pela jornalista Wendy Northcutt, mas a ideia de premiar imbecilidades extremas é muito mais antiga. O primeiro relato de um idiota premiado é de 1874: um estudante universitário se fantasiou de vampiro para uma festa de Halloween e, para dar realismo à fantasia, decidiu prender uma estaca de madeira no seu peito. Por um erro de cálculo, ele acabou, idioticamente, imprimindo mais força do que deveria e a estaca, além de perfurar sua roupa, perfurou também seu peito e seu coração. O vampiro especial morreu na hora, antes de passar seus genes debilóides adiante, mas recebeu um prêmio improvisado por causa da façanha.

O prêmio é baseado em uma dose carregada de humor negro, mas nem por isso é uma zona. Há regras. Para vencer um Prêmio Darwin, o caso tem que atender a cinco regras:

  1. Após o evento a pessoa tem que ficar totalmente incapacitada de gerar descendentes: geralmente ocorre com a morte, mas também pode acontecer se a pessoa tiver a capacidade de se esterilizar (modalidade chamada de Living Darwin)
  2. Excelência: a forma como a pessoa cometeu o erro deve ser totalmente idiota, contrariando o bom-senso, ilógica. É aquele tipo de situação onde qualquer pessoa comum perceberia que ia dar merda.
  3. Auto-seleção: é indispensável que a pessoa tenha causado o dano a si mesma, ou seja, que ela sozinha tenha se colocado naquela situação, por vontade própria
  4. Maturidade: A pessoa deve estar mentalmente apta para decidir se colocar nessa situação, quer dizer, a pessoa estava apta a ter o discernimento de perceber o risco (crianças não podem ganhar Prêmio Darwin).
  5. Veracidade: O evento deve ser verificável, é preciso conseguir provar que a pessoa morreu em decorrência da sua própria imbecilidade.

O que começou como uma brincadeira jornalística, com a única intenção de contar histórias engraçadas com final infeliz, acabou virando coisa séria. A revista British Medical Journal resolveu pegar o compilado de histórias e de ganhadores para realizar um estudo sobre “comportamento idiota”. Concluiu que comportamento idiota é “comportamentos totalmente destituídos de sentido, cujos benefícios aparentes são mínimos ou inexistentes, e cujo resultado costuma ser extremamente negativo e muitas vezes fatal”. Também traçaram o perfil do idiota recorrente: cerca de 90% das cagadas que geram a premiação foram praticadas por homens.

Se o Brasil não tem prêmio Nobel, em compensação, tem Prêmio Darwin! O brasileiro Adelir Antônio de Carli, conhecido como “Padre dos Balões”, ganhou a premiação máxima em 2008, pela sua maravilhosa façanha. Para quem não se lembra do caso, o padre achou que seria uma boa ideia amarrar cerca de mil balões cheios de hélio e sair voando com eles, na intenção de chegar a outra cidade. Com este ato maravilhoso ele tinha a intenção de chamar a atenção para uma causa religiosa e arrecadar fundos para ela.

Foi avisado pelas autoridades que era melhor não voar, pois o tempo estava ruim, mas ele disse que voaria, pois as nuvens eram baixas e ele logo ficaria acima delas. Além disso, ele estava preparado: levou celular e um GPS. Porém, parece que o senso de humor divino é um pouco mais pesado do que ele esperava: um vento o tirou da sua rota. Ele chegou a entrar em contato com a polícia para dizer que estava sendo arrastado pelo vento e quando solicitaram que informe onde estava, ele comunicou que não sabia usar o GPS, pedindo que a polícia o ensine a usar. Então, ele revelou outro detalhe: a bateria do seu celular estava no fim.

No final das contas, acabaram encontrando partes (sim, eu disse “partes”) do padre no mar. Ele recebeu não apenas o prêmio, como uma versão especial do prêmio: o Darwin Double, pois, em função do celibato, ele já fazia o favor de não passar seus genes adiante, depois de sua morte, não passaria mais seus genes de forma dobrada.

Há menções honrosas a brasileiros em diversas ocasiões, vocês sabem, um povo que gera o “Ei, Você” certamente não é um povo que morre com dignidade. Temos o caso de um traficante carioca que, nervoso, em uma perseguição policial, acabou atirando o pino e ficando com a granada na mão. Em outro caso similar, um energúmeno queria abrir uma granada para ver como era por dentro e achou que se não retirasse o pino estaria seguro: primeiro ele tentou passar por cima da granada com o carro, mas, como nada aconteceu, ele resolveu quebrar a granada com uma marreta.

O Prêmio Darwin mostra que a estupidez humana não tem limites. Se você acha que já viu de tudo em matéria de imbecilidade, confere as belezuras abaixo. Vale lembrar que são todos casos verificados e provados.

O agricultor polaco Krystof Azninski, vencedor do Darwin Awards 1996, estava bebendo com os amigos, até que resolveram fazer uma competição para ver quem era “mais macho”. Começaram com desafios simples, como bater na cabeça uns dos outros com nabos congelados. Porém, a ousadia rapidamente tomou lugar e um dos amigos provou sua masculinidade cortando seu pé com uma serra elétrica. Krystof Azninski não podia ficar para trás, onde fica a honra? Foi lá e cortou sua própria cabeça com a serra elétrica. Morto? Talvez. Mas macho.

O grande vencedor de 2010 teve sua vitória filmada! Um homem em uma cadeira de rodas motorizada corria para entrar no elevador. As portas estavam se fechando, mas ele não se conformou: forçou sua entrada, batendo na porta metálica, que acabou cedendo. Infelizmente o elevador já havia partido.

Tem o famoso caso do elemento que decidiu tirar toda a roupa e mergulhar no tanque da baleia Tilikum, uma orca gigante que já havia matado quatro pessoas. Ele entrou escondido no Sea World, depois que o parque estava fechado, tirou a roupa e pulou no tanque. Foi encontrado sem vida, no dia seguinte, sendo usado como um brinquedo pela nossa baleia favorita. Descanse em paz, Tili.

O vencedor de 1998, Michael Gentner, estava pescando com amigos, até que um deles duvidou que Michael engula o próximo peixe que pescasse. Só para constar, apesar de não parecer, Michael era adulto. Movido pelo desafio, Michael colocou o peixe, ainda vivo, em sua boca. Infelizmente esqueceu de combinar o evento com o peixe, que não gostou nada disso, ficou se debatendo, impedindo que Michael o engula. Resultado: morte por sufocamento.

O vencedor de 2006, Nick Berrena, comprou um colete à prova de balas e surgiu uma discussão com seu amigo: seria à prova de faca também? Seu amigo disse que não, que por ser à prova de balas não significava ser à prova de facadas. Mas Nick era um homem de certezas: bateu pé e afirmou que o colete o protegia contra facadas. Para provar seu ponto, pegou uma faca e se esfaqueou no peito. Infelizmente o colete era apenas à prova de balas.

Recentemente, vem sendo documentadas muitas mortes por Memes nas menções honrosas, pessoas que não chegaram a ganhar o prêmio mas merecem citação. As pessoas tentam reproduzir Memes e acabam se matando. O campeão de mortes é o “owling”, que consiste na pessoa tirar uma foto empoleirada, imitando uma coruja.

Infelizmente as pessoas insistem em se empoleirar em locais altos e sem proteção, o que nem sempre acaba muito bem. Mas, como o ser humano não tem limites para fazer merda, até mesmo um Owling de baixo risco pode ter um final infeliz: uma moça extremamente gorda achou que seria bacana fazer um Owling no vaso sanitário, porém, em decorrência do seu peso, o vaso acabou quebrando e cortando profundamente sua perna, fazendo com que morra em poucos minutos pelo sangramento.

São dezenas de histórias tragicômicas, desde gente que resolve brincar de roleta-russa com pistola semi-automática (100% de aproveitamento!) até terroristas que não se tocaram do horário de verão, morrendo enquanto ainda levavam a bomba, pois o detonador disparou mais cedo. O Prêmio Darwin é uma aula sobre o grau de estupidez humana que as pessoas podem alcançar.

Se você gostou do tema e quer saber mais sobre a imbecilidade humana, os principais casos estão compilados em um livro: “Prêmio Darwin, a evolução em ação”, de autoria da jornalista Wendy Northcutt. Recomendamos.

Para dizer que é um milagre que o ser humano não esteja extinto, para dizer que Somir é forte candidato ou ainda para dizer que o Prêmio Darwin é um “Ei, Você” mundial: sally@desfavor.com

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Comments (15)

  • Conheci esse prêmio maravilhoso aqui <3 no texto acho que a Sally deixou um link pro livro de alguns compilados da época.

    Recentemente um casal de youtubbers tomou no cu, porque o cara mandou a esposa atirar nele dando certeza que um livro ridículo pararia a bala. Sei que não foi ele que atirou e eles ja tinham 2 filhos (um na barriga), mas iria dar um ótimo couple Darwin. Acho que com essa onda de youtubber fazer loucuras em troca de views, muitos prêmios darwins documentados estarão por vir.

  • Fiquei sabendo da existência do Prêmio Darwin graças ao padre baloeiro. Algum tempo depois de confirmada sua morte, saiu no jornal que ele tinha conquistado o prêmio. As histórias dos ganhadores são, como bem o texto definiu, tragicômicas

  • Gente! Muito amor pelo BMJ né?

    “comportamentos totalmente destituídos de sentido, cujos benefícios aparentes são mínimos ou inexistentes, e cujo resultado costuma ser extremamente negativo e muitas vezes fatal” = tradução: “a zoeira não tem limites”. Acho que atualmente tem gente competindo sério pra entrar nessa lista! hahaha!

    Agora quanto à história da gorda no vaso sanitário, tirando a parte engraçada, isso é um alerta importante, principalmente pra nós, mulheres, que fazemos malabarismos em banheiros públicos. Mesmo sendo magra, às vezes só de subir numa privada ela pode quebrar, e esses cortes com porcelana são os piores… Não é raro um acidente desses acabar em morte…

  • A primeira vez que ouvi falar do Darwin Awards foi num programa da Mtv chamado Descarga, apresentado pelo Marcos Mion. Na época eles fizeram campanha para as pessoas votarem no Padre dos Balões. Hahaha… deu certo, o padre ganhou.

  • “Temos o caso de um traficante carioca que, nervoso, em uma perseguição policial, acabou atirando o pino e ficando com a granada na mão.”
    Achava que isso só acontecia em desenhos animados… Mas eu ri.

    Ah! E eu quero uma cópia do livro compilando os casos do Prêmio Darwin.

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