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Suicídio.

Suicídio.

| Sally | | 22 comentários em Suicídio.

O numero mundial de suicídios hoje é maior do que o numero de mortes em função de violência, guerras e desastres naturais, todo juntos. É isso mesmo que você leu. Mais pessoas tiram suas próprias vidas voluntariamente do que são mortas, seja por assassinatos, seja por algum tipo de desastre.

Os dados são da Organização Mundial da Saúde. O suicídio está aumentando progressivamente, inclusive em países mais evoluídos. Discute-se pouco o que está causando essa “epidemia” mundial de suicídios, é um assunto tabu.E, na minha nunca humilde opinião, a pouca discussão que existe está acomodada, monótona e simplória. Estão apenas arranhando a superfície.

Há quem culpe a crise econômica, mas isso não explica o suicídio de pessoas em ótimas condições financeiras, que é uma realidade. Há quem diga que é o estresse: em 2010 aconteceu uma virada importante e a maioria da população mundial passou a viver em grandes cidades, onde o estresse é maior. Há quem culpe a solidão. Estudos indicam que nos EUA 40% dos adultos se sentem sozinhos, uma taxa alarmante. Em resumo, se culpa o “mundo moderno” e suas mazelas.Óbvio que a questão social interfere (e muito) no suicídio, mas… será que é só isso? Talvez estejamos deixando passar algo.

Houve um tempo e que tudo era explicado pela ciência, por dados concretos, por exames médicos. O psicológico não importava, era um mero adendo. Nessa a medicina errou de montão, por ignorar uma parte fundamental e indissociável do corpo: a mente. O pêndulo virou e entramos em uma era onde tudo é psicossomático, inclusive um tumor do tamanho de uma laranja, quando os médicos não encontram uma resposta imediata.

Agora tudo está na sua mente, tudo é psicológico. E nessa também continuam errando de montão. Todos os excessos são ruins, seja pensar que o psicológico não influencia sempre, seja afirmar que ele é o motivo sempre. Hora de equilibrar essa balança. Acredito que aí esteja a resposta para essa epidemia mundial de suicídios.

Um caso famoso no Brasil me chamou a atenção e me fez pensar numa teoria. Um município da zona rural gaúcha chamado Venâncio Aires bateu recordes mundiais de suicídio, intrigando especialistas a ponto de organismos internacionais cobrarem explicações. Lá não tem o estresse das grandes cidades, tem agricultores, e ainda assim era a cidade do mundo todo onde mais pessoas se matavam. Mercado financeiro? Internet? Solidão? Não. Durante muito tempo ninguém conseguia entender de onde vinha aquilo, os “culpados” habituais não estavam presentes.

Não havia poluição, mercado financeiro, estresse de grandes centros urbanos. Mas a cobrança de explicações obrigou um estudo a fundo. Descobriram um denominador comum nos suicídios: o uso de organofosfatos como pesticidas. Começaram a pesquisar na literatura mundial sobre seus efeitos e descobriram que, inalados quando se pulveriza plantações, os organofosfatos entram diretamente no organismo e podem sim gerar um desequilíbrio bioquímico no corpo capaz de induzir ao suicídio.

Os suicidas eram, em sua maioria, agricultores. Muitas famílias relatam que eles não pareciam deprimidos e que inclusive estavam felizes. Bem, até aí, subjetivo demais para ser levado em conta como uma verdade, a família pode não reparar. Mas um dado curioso nos ajuda a seguir pelo caminho certo: os safristas. Safristas são agricultores de ocasião, contratados temporariamente no período de safra, onde a demanda é maior. E justamente nesse período de safra ocorria um aumento de mais de 80% nos suicídios, envolvendo os safristas.

A relação é evidente e existe uma explicação científica: os organofosfatos inibem a produção de uma enzima chamada “acetilcolinesterase”, que regula (controla) um neurotransmissor chamado“acetilcolina”, crucial para nosso humor. É como se a acetilcolina fosse a coleira que mantém um cachorro feroz preso. Enquanto o cachorro estiver com a coleira, está tudo bem, ele dorme, ele não fere ninguém. Mas os organofosfatos cortam a coleira do cachorro e ele ataca sem aviso. Em termos técnicos, inibindo a produção dessa enzima, se aumentam os níveis de acetilcolina, gerando um estado depressivo de origem química.

A culpa não era da família, do casamento ou do filho ser homossexual, era predominantemente químico. Era uma entrada violenta, repentina e em grande quantidade no organismo de uma substância que bagunça com substancias cruciais para a harmonia do corpo, gerando um desequilíbrio bioquímico forte o bastante para induzir o suicídio.

Evidente que por lidar diretamente com os pesticidas os agricultores sofrem um efeito mais rápido e devastador, mas, se você pensar com calma, vai perceber que eles chegam até nós. Em doses menores, sem dúvida, mas diariamente, várias vezes por dia, na nossa comida e em outros produtos que consumimos. O efeito é acumulativo no organismo. Spoiler: a maior concentração de organofosfatos está na lavoura do fumo. Boa sorte colocando mais isso para dentro do seu pulmão, direto na sua corrente sanguínea. Então, será que a longo prazo os organofosfatos também não estão soltando lentamente nosso cachorro da coleira? Esse é um denominador comum no mundo: todo mundo come.

Por um caso atípico, conseguiram detectar que havia uma culpa específica dos organofosfatos. Quantos outros fatores químicos inerentes ao mundo moderno não podem estra minando nosso equilíbrio químico? Certamente existem outros que ainda não foram detectados: brinquedos chineses com plástico de qualidade duvidosa, alguns alimentos congelados e até alguns produtos para cabelo já estão na mira de cientistas. Talvez os suicidas estejam sendo bombardeados com uma saraivada de química tão forte que qualquer conflito social gerasse essa consequência nefasta que é o suicídio.

Atenção e contexto: não quero fazer dos pesticidas os vilões do mundo nem descartar os sofrimentos da alma como componente do suicídio. Só estou colocando um foco na química por achar que ela vem sendo erroneamente ignorada. Hoje existe uma tendência a ter tudo é explicado pelo sofrimento, pela angustia e pelos “males do mundo moderno”. E eu acho que não é só isso.

O mundo já esteve pior do que está hoje. Você se sente estressado por trabalhar demais? Bem, já tivemos épocas de guerras sangrentas, de fome, de violência extrema, bem piores do que nos dias de hoje. Mais dor, mais morte, mais sofrimento, mais isolamento. Por algum motivo extra que não as dificuldades sociais o ser humanos se mata muito mais, proporcionalmente, nos dias de hoje. Evidente que nós, que estamos passando pelo perrengue hoje, achamos que o mundo atual está muito mais difícil de viver, mas a verdade é que se der uma lida nos livros de história com imparcialidade, você vai ver que não é verdade. Tem mais coisa aí.

No Brasil, cerca de 25 pessoas cometem suicídio por dia. O assunto não é muito discutido pois existe um pacto silencioso na imprensa de não falar nele. Acreditam que falar de suicídio estimule suicídio. Como a gente não faz parte do mainstream, podemos dizer que nos últimos 20 anos o suicídio cresceu cerca de 30% entre os jovens no Brasil. Curiosamente, apesar de se dizer o país mais feliz do mundo em pesquisas, o Brasil emplaca o oitavo lugar mundial em suicídios, só perdendo para países realmente muito cagados com opressão, tortura e ditadura.

Hoje, no mundo, uma pessoa se mata a cada 40 segundos. Desculpa mas isso não pode ser apenas (eu disse APENAS) solidão, internet distanciando as pessoas nem estresse pelo trabalho. Estresse todas as gerações viveram, algumas muito mais do que a nossa. Hora de pensar maior. Enquanto continuarem creditando tudo ao estilo de vida, ao emocional, o quebra-cabeça não vai fechar e o suicídio continuará aumentando e sendo tratado como culpa da sociedade e da família.

Não me parece que campanhas contra suicídio sejam a resposta. É hora de focar na causa, fazer uma pesquisa séria e científica sobre a interferência no organismo humano do estilo de vida moderno: menos horas de sono, tipos de substâncias que estamos colocando para dentro do organismo e outros fatores. É preciso compreender a totalidade do mecanismo que está causando essa epidemia silenciosa e, mais do que nunca, começar a falar sobre ela. Não falar não está dando certo.

Os hábitos de vida do ser humano mudaram muito nas últimas décadas. É hora de lançar um olhar científico sobre os impactos disso na depressão e no suicídio em vez de ficar apenas culpando os deprimidos, pedindo que tenham força de vontade e que sejam mais felizes. O fato social existe e influencia mas… e se o fator principal for externo e de origem química?Considerando os efeitos devastadores que causa, acredito que mereça uma investigação mais cuidadosa por parte da comunidade médica, nem que seja para acabar por desmentir essa teoria.

Obs: quão mal está o mundo para uma leiga levantar essa questão?

Para dizer que a culpa da depressão é da coluna A Semana Desfavor, para perguntar se organofosfatos no cérebro podem fazer alguém votar no PT ou ainda para questionar por qual motivo os sertanejos não se suicidam: sally@desfavor.com


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