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Ele disse, ela disse: Saída digna.

| Desfavor | | 72 comentários em Ele disse, ela disse: Saída digna.

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Quando a natureza chama, poucos conseguem ignorar. Agora, se esse chamado vem ao ar livre, não existem muitas opções dignas. Em mais uma da série “pior dos piores”; Sally e Somir discutem a pior opção para expurgar o mal que vem de suas entranhas quando um banheiro comum não é uma escolha. Os impopulares fazem força para participar.

Tema de hoje: O que é pior, cagar no mato ou num banheiro químico?

SOMIR

Pior é cagar no mato. Claro que vou mencionar problemas práticos da “escolha natural”, mas comecemos um pouco mais idealistas: um dos nossos maiores avanços como espécie foi parar de cagar em qualquer lugar. Pode parecer uma obviedade para as pessoas dos últimos séculos (se bem que eu poderia dizer décadas…) que não é nem um pouco salutar viver rodeado por fezes, mas nem sempre foi assim.

Nossos padrões de higiene evoluíram imensamente nem tão antes assim da maioria de nós nascer. E com isso toda uma série de indicadores de desenvolvimento humano ao redor do globo. E vejam bem, não estou nem apontando o dedo para as pessoas do passado e recriminando-as por sua porquice. Primeiro não sabiam que era perigoso para saúde, e durante um bom tempo não havia a infraestrutura necessária para lidar com essa merdalheira toda. Compreende-se.

Mas hoje em dia não. Usar um banheiro para aliviar-se é a norma. Não estou dizendo que voltaremos à era da insalubridade galopante se você der uma cagada no mato, mas evitar o comportamento não só faz bem para a natureza (já chego nessa parte) como é uma medida de respeito com toda a evolução humana que precedeu sua existência. Bicho caga no mato, gente não. Valorize-se!

Mas é claro… de nada adianta idealismo quando uma função fisiológica inescapável “bate na porta”. Seguindo a premissa do texto, você precisa cagar, e só tem duas opções: o banheiro químico e o mato. Longe de mim dizer que banheiros químicos são lugares agradáveis… longe mesmo. Mas mesmo assim é um banheiro. Não sei se você já recebeu uma cópia desse memorando, mas… gente caga em banheiro. Ponto.

Tergiversando um pouco, mas não muito: na China ainda existe o hábito de cagar onde dá na telha. É extremamente mais comum entre as pessoas que vieram de zonas rurais para as grandes cidades há pouco tempo, e cada vez menos comum, mas ainda tem quem o faça. No meio da rua, na frente dos outros. É nojento, não? Mas há de se argumentar que é mais prático, não tem que esperar em fila, não tem que encarar cheiro dos outros… E não é como se a bosta fosse ficar lá para sempre. Mesmo com essas vantagens, a maioria dos chineses civilizados que dão de cara com o comportamento acham um absurdo! Oras, não se caga em qualquer lugar! Deveria ser senso comum.

Vamos agora falar sobre as vantagens de cagar no mato. Sim, eu quero ser justo… Tem que ter vantagens, senão Sally não estaria defendendo o ponto. Opa! Olha só que prático, eu já os listei quando usei o exemplo dos chineses que cagam no meio da rua! Praticidade, rapidez, sem cheiros alheios, a merda acaba sumindo de qualquer jeito… Mas, também economizando argumentação: também deveria ser senso comum que não se caga em qualquer lugar.

Estou teimando com toda essa coisa de “gente não caga no mato”, né? Vamos trazer à mesa (ou ao trono) mais elementos concretos. No banheiro químico você tem algo que não se pode garantir no mato: privacidade. É um lugar fechado, você e seu produto isolados dentro de paredes plásticas azuladas. Não há nenhum glamour, é claro… mas você está cagando. Não é mesmo um dos seus momentos mais fotogênicos!

Quem acha que ir no meio do mato longe da vista das pessoas garante privacidade tomaria um susto ao ver a quantidade de vídeos postados na internet flagrando gente se aliviando em moitas. Desde sacanas fazendo isso para rir da exposição alheia até mesmo fetichistas, tem muita prova por aí que a não ser que você cague no meio da Floresta Amazônica, existe a chance de ser flagrado… opa, flagrada. Mulheres deveriam tomar mil vezes mais cuidado. E isso só de vídeos postados e públicos o suficiente para alguém como eu ficar sabendo (eu conheço mais baixarias que o cidadão médio na internet, mas não precisei “raquiar” nada para saber que isso existe). Você está exposto quer queira ou quer não. O ar livre é domínio público. Digo mais: seu cu é domínio público nessa situação! O banheiro químico não conta com esse risco.

E até pelo “químico” do banheiro químico, não tem natureza para intervir com sua obra de arte barroca. Existem folhas urticantes, animais e insetos venenosos e/ou curiosos… você está apontando uma das áreas mais vulneráveis do seu corpo em direção à natureza selvagem. E como ser humano não vem com espelho retrovisor de fábrica, pode estar acontecendo qualquer coisa atrás de você. No banheiro químico o maior problema é o fedor. O segundo é a fila. De resto, é um lugar projetado para gente fazer suas necessidades.

Como deveria ser. Mas sigamos: se você se importa com a natureza, entenda que um ser humano normal dos dias modernos produz tudo menos adubo quando se alivia no mato. O que comemos – e consequentemente cagamos – é tóxico. Num ecossistema tão afeito a reutilizar matéria orgânica, a que nós produzimos mata peixes! Somos bombas químicas cheias de hormônios e coisas que ser vivo nenhum deveria ter em seus corpos. A sua merda e a de um animal selvagem são bem diferentes. O argumento da naturalidade cai por terra aqui. A natureza NÃO agradece.

E eu já disse que gente não caga no mato? Porque isso é importante… Gente não caga no mato. Bem vindos ao mundo moderno!

Para dizer que caga e anda para meus argumentos, para dizer que caga no mato e é gente, ou mesmo para dizer que entre cagar no mato e mijar no banho não sobrou uma pessoa digna aqui no desfavor: somir@desfavor.com

SALLY

Queridos Impopulares, hoje acordamos profundos e filosóficos: O que é pior, cagar no mato ou no banheiro químico? Conflito de grande relevância para a humanidade, porém de fácil resolução. Cagar em banheiro químico é mil vezes pior!

Só para a gente começar a conversar, cagar no mato é ruim, mas ao menos você pode escolher ONDE no mato você quer cagar, não precisa cagar por cima da merda de trocentos desconhecidos que passaram ali antes de você. Também não precisa lidar com respingos de bosta e mijo de outras pessoas nem com o cheio disso tudo. O mato é amplo, há um mínimo poder de escolha para seu conforto, seja na hora de escolher o local da defecção, seja na sua movimentação. E você caga na posição que quiser: de pé, acocorado ou o quando a elasticidade do seu corpo permitir.

O mato é céu aberto, ou seja, um local fresco e ventilado. O que significa que, além de não ter que cheirar a merda alheia, você não precisa nem ao menos cheirar a sua. Nem acertar um buraco imundo. No mato não tem papel higiênico? Pois é, não tem, mas não se iluda, nada te garante que no banheiro químico vá ter. Pessoas precavidas andam com lencinhos umedecidos, lenço de papel ou qualquer coisa que o valha na bolsa, principalmente quando vão para longe da civilização. Vamos combinar, ninguém caga no mato por prazer, estamos falando de casos onde não há um banheiro digno por perto. E, palavra de quem já passou por poucas e boas, na hora do sufoco até com meia se limpa o cu.

Digo mais: se for para trabalhar com o “worst-case scenario”, com a pior perspectiva possível, se faltar papel, lencinho, meia ou coisa que o valha no mato, a natureza te proporciona uma folha amiga, ou com muita sorte um riacho. E se faltar papel no banheiro químico, Meus Queridos, faz o que? Arrasta a bunda no chão feito gato? Reflitam.E atenção, Homens: o tema é CAGAR. Não venham com mimimi que mijariam em banheiro químico, é do numero 2 que estamos falando aqui. Todo mundo sentadinho no infecto troninho plástico ou acocorado no mato. Tratem de decidir dentro do que está sendo proposto.

Por mais horroroso que seja, cagar no mato faz parte da história do ser humano. Nossos ancestrais faziam. Já cagar em um cubículo plástico, fedido, escuro e imundo vai diretamente de encontro à nossa natureza, até doença se pode pegar em um banheiro químico. Em locais de clima quente, predominantes no Brasil, banheiros químicos mais parece uma sauna, só que em vez de eucalipto, tem bosta. Qual é o naipe da pessoa que caga em um banheiro químico? Para mim é o pior possível. Uma pessoa digna, com vergonha na cara, experimenta uma timidez anal de trancar qualquer dor de barriga só de ver aquela casinha dos horrores. Eu cagaria até numa panela, mas nunca em um banheiro químico.

No mato tem animais? Geralmente sim. Mas são grandes e você pode perceber quando eles se aproximam. No banheiro químico há milhões de animaizinhos pequenos, vibe ameba e cia, que você nunca sabe onde estão, só tem a certeza de que estão lá. Francamente, eu acho os animais do mato são mais inofensivos, pois um javali não pode entrar no seu organismo pela sua pele ou mucosas.

Vale lembrar que a proposta é cagar NO MATO, não no cerrado, não na caatinga, não no deserto. MATO. Mato pressupõe vegetação, geralmente abundante, então, a privacidade estará garantida, pois sempre tem uma área mais densa, um arbusto salvador ou um tronco para se escorar. Cagar no mato não significa cagar com plateia. Bem, talvez uma arara, um tucano ou uma capivara, mas eles não vão contar para ninguém. Experimenta fazer uma bosta fedida em um banheiro químico e um conhecido seu ter que usar o banheiro logo depois e observa nascer algum apelido humilhante para a sua pessoa, coisas como “Cu D´Ouro”, “Cu de Bueiro” ou “Cu Podre”.

Cagar no mato chega até a ser ecológico. É uma versão nojenta do círculo da vida. Tudo bem, não é das mais populares, essa versão Mufasa não ensina, mas contribuí para a natureza: aduba as plantinhas, alimenta o besouro de esterco e faz germinar aquele grão de milho que você comeu com pressa, não mastigou direito e acabou saindo do mesmo jeito que entrou. Cagar no mato é biodegradável. Já já esses ecochatos vão defender cagar no mato como regra e não como exceção. Já cagar no banheiro químico é um desfavor para o planeta. Não que eu me importe, mas muita gente se importa, então, levem em conta caso se importem.

Cagar no mato pode ser repetido impunemente se for necessário. Cagou uma vez e precisou cagar novamente? Anda alguns metros (ou quilômetros, dependendo do seu potencial anal) e pronto, vai cagar em um novo local, imaculado e fresquinho. Banheiro químico não, cagou uma vez, já está sujo, já vai ter respingo, já vai estar fedido. Sinceramente? Banheiro químico deveria é ser descartável: a pessoa caga, um sensor avisa à Defesa Civil que vem, reboca o banheiro químico, o incinera e coloca outro novo no local. Mas o ser humano é porco, o ser humano é nojento, tolera esse tipo de coisa. Privada tinha que ser como escova de dentes: cada um tem a sua e é socialmente reprovável usar a do outro.

Tudo que um banheiro químico te oferece pode ser reproduzido no mato: cava-se um buraco no caso de desejar sentar para cagar, esconde-se na mata cerrada caso deseje privacidade, etc. Com a diferença que o mato te proporciona uma vantagem muito importante: o ineditismo. Nunca ninguém cagou ali antes, está limpinho. É quase que uma virgindade merdal. Porque se enfiar em um cagódromo de plástico, usado sabe-se lá por quem, quando existem quilômetros de área limpa te esperando? Um ventinho no cu certamente é menos ruim do que um cubículo imundo.

Sabemos que ambas as opções são horríveis, mas há momentos na vida onde é preciso fazer o que o direito chama de “escolhas trágicas”. O que você sacrificaria? O que é mais importante para você? Quem responder que prefere banheiro químico cai no meu conceito.

Para se perguntar de que tipo de brainstorm nascem os temas desta coluna, para dizer que se este é um tema aprovado não quer nem imaginar quais são os reprovados ou ainda para aproveitar e dar um show de escatologia: sally@desfavor.com


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