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Desfavor Explica: Ouro.

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Ele é chamado por alguns (geralmente aqueles que não o tem) de “vil metal”. Talvez seja o único símbolo de status universal e atemporal. Desfavor explica: Ouro.

O ouro é um dos metais mais valiosos que existem. Seu símbolo na tabela periódica é “Au”, porque o nome vem do latim: “aurum”, que significa “brilhante”. É valioso em parte porque é relativamente difícil de conseguir, mas também por suas propriedades: é maleável (o mais maleável de todos os metais) e não sofre corrosão, é o único metal que não oxida. É resistente a duas das maiores pragas para os metais: água e oxigênio. Por isso é o metal de predileção para fazer joias, especialmente aquelas de uso diário como alianças. Você pode tomar banho, lavar louça, pegar sol e até mesmo mexer em produtos de limpeza com um anel de ouro que ele continuará intacto. Ouro não enferruja, ouro não mancha.

Você sabe por quais processos o ouro passa antes de chegar ao seu dedo? Não é tão simples como parece. Leigos acham que um fulano sortudo encontra uma pepita de ouro e ela é simplesmente derretida em uma forma de anel. Se fosse assim, não seria tão caro. É caro porque dá um trabalho enorme. A maior parte do ouro é extraído de depósitos de minério. Geralmente ele se localiza nas frestas entre as pedras. Para extrair este ouro é necessário um processo complicado e multidisciplinar.

Começa por descobrir onde tem ouro. Esta é uma tarefa para geólogos, que estudam diversas amostras do solo para descobrir se tem ouro e onde. Estas amostras são bem complicadinhas de se conseguir. É necessária uma broca de diamante que perfure o solo a uma grande profundidade, quebrando rochas duras, e colha várias amostras. Estas amostras todas serão criteriosamente analisadas e será apontado pelos geólogos onde há ouro. Depois vem os engenheiros que traçam um plano para perfurar esse solo da melhor forma possível: onde furar, como furar, onde explodir, como explodir sem desabar tudo.

Por fim vem os mineiros, encarregados de perfurar rochas duras que muitas vezes só podem ser quebradas com explosões. Há mineiros que descem cerca de meio quilômetro abaixo do solo em busca de ouro. Geralmente o processo é feito com explosivos: os mineiros descem, colocam explosivos, quebram a pedra em várias pedras menores e as transportam para uma usina. Mas isso é só o começo do processo. Já se tem acesso ao ouro, mas ele ainda não pode ser utilizado.

Geralmente o ouro vem misturado com outros metais, como a prata, por exemplo. Assim, o pedaço de minério removido precisa ser processado para extrair apenas o ouro. Uma tonelada de minério rende aproximadamente 6g de ouro. As pedras com os metais misturados são trituradas e moídas até terem o tamanho de grãos de areia. Depois se mistura água e cianeto e essa mistura é moída mais uma vez, formando uma lama. Essa lama é armazenada em grandes tanques de decantação. Os metais mais, mais pesados, acabam se depositando no fundo e a água da superfície é drenada.

Os metais ainda molhados são transferidos para um tanque que injeta jatos de ar neles. O oxigênio produz uma reação química entre o cianeto e o ouro, fazendo com que o ouro se dissolva e passe para a água à sua volta. Esta água é separada dos sólidos é isolada e é colocado pó de zinco nela, para que o ouro se solidifique. Depois é hora de fundir o ouro em barras, o que demanda um novo processo complicado. Uma mistura química é acrescentada, com o objetivo de separar o ouro das impurezas que ainda restarem. A mistura é colocada a uma temperatura de mais de mil graus em um fundidor, que gira para que todo o ouro seja aquecido por igual. Três horas de fundidor fazem com que o ouro derretido afunde por ser mais pesado e que as impurezas fiquem na superfície, sendo removidas.

Mas ainda não acabou: as impurezas são analisadas para ter certeza de que não sobrou nem um pouquinho de ouro nelas. Se sobrou, se repete o processo, quantas vezes sejam necessárias. Isso explica o preço, além de ser raro de encontrar, é difícil de pegar mesmo depois que você o encontra. Quando se tem a certeza de que todo o ouro está separado das impurezas, o ouro é reaquecido a 1.600 graus e fundido em barras. O ouro é colocado em uma bacia de água fria para acelerar seu resfriamento, que acaba levando em média uma hora. O ouro é desmoldado e, pasmem, nesse estágio ele é apenas 80% puro. Geralmente é enviado para a Casa da Moeda, que refina o ouro para uma pureza de 99%, o padrão internacional de pureza do ouro, em mais um procedimento complexo. Tá explicado o porque do preço alto?

Em seu estado puro, o ouro é tão maleável que chega a ser “mole”. Quem nunca viu em um filme ou em um desenho animado alguém encontrando uma pedra de ouro e mordendo para ter certeza de que realmente se tratava de ouro? A pessoa morde para se certificar: se conseguir deformar a pepita com sua mordida, é ouro. De tão maleável, o ouro pode ser moldado de forma a se tornar uma folha tão fina que permite a passagem da luz do sol. Com apenas um grama de ouro é possível fazer um fio de 3km de extensão e 0,005 mm de diâmetro ou uma lâmina de 70 cm de largura e espessura de 0,1 micrômetro.

Geralmente a qualidade de ouro se avalia em quilates (K). O quilate corresponde à sua pureza. O ouro puro tem 24 quilates e é tão macio que pode ser moldado com as mãos. Quando o ouro é utilizado para joias e utensílios, ele tem que ser misturado a outros metais (papo técnico: liga) para que tenha um mínimo de rigidez, logo, a quantidade dessa mistura determinará os quilates. Quanto mais mistura, menor o quilate. Exemplo: um anel com 16 partes de ouro e 8 de cobre é um ouro de 16 quilates, pois dos 24 totais apenas 16 são de ouro puro. Dependendo dos metais que são acrescidos para fazer essa liga, o ouro pode assumir diversas cores.

As mais populares são o clássico ouro amarelo (ouro + 2/3 de prata + 1/3 de cobre), o ouro rosa (ouro + 1/3 de prata + 2/3 de cobre) e o ouro branco (ouro + paládio). Entretanto, também existe ouro azul (ouro + prata + zinco), ouro verde (ouro + prata), ouro vermelho (ouro + cobre) e até mesmo ouro negro (ouro + prata + ferro ou aço). Normalmente ouro para joias tem 18 K, ou seja, se dividido em 24 porções, 18 são de ouro e o resto dos metais que dão a “liga”. Para saber basta olhar a parte interna do anel ou então o certificado de garantia da joia, os quilates estão carimbados lá. Quando os quilates são estipulados por lei, temos o que se chama “ouro de lei”.

Historiadores sugerem que o ouro pode ter sido o primeiro metal a ser utilizado pelo homem. O registro mais antigo de um objeto trabalhado em ouro pelo homem já encontrado pertenceu a uma rainha egípcia. Estamos falando de 2.600 Antes de Cristo, mas há indícios de que o homem manipula o ouro desde 5.000 Antes de Cristo. Talvez o ouro seja uma das poucas substâncias que nunca foi reciclada na história, pois sempre teve valor elevado.

Hoje sua utilização vai muito além de ornamentos, é utilizado para funções como revestir satélites ou peças de computadores (graças à sua boa condutividade elétrica) e até mesmo naves espaciais. Também é usado em tratamentos médicos que vão desde câncer a restaurações dentárias por sua alta resistência a bactérias. Cada vez que você tecla no seu computador, está cutucando um “circuito de ouro” que transmite a mensagem ao microprocessador. Muitos eletrodomésticos e eletrônicos da sua casa contém alguma quantidade de ouro, como por exemplo a TV ou o seu celular. Mesmo sendo pobre como quem vos escreve, o ouro está mais presente na sua vida do que você imagina.

Atualmente o principal “produtor” de ouro é a África do Sul, seguida por China, Austrália, EUA, Peru, Rússia e Canadá. Estima-se que dois terços do ouro atualmente extraídos do mundo venham da África do Sul. O Brasil descobre modestas 75 toneladas de ouro por ano. Mas, por incrível que pareça, atualmente o lugar que mais concentra ouro não é a terra, e sim o mar. Porque? Por um motivo muito simples: o ser humano ainda não sabe como tirá-lo de lá. Estima-se que aproximadamente a cada oito bilhões de litros de água exista um quilo de ouro e que ao total os oceanos abriguem a módica quantia de 9 milhões de toneladas de ouro. Só para vocês terem uma ideia do quanto é isso, em toda sua existência o ser humano descobriu, ao todo, apenas de 160 mil toneladas de ouro do solo.

Mais da metade da produção mundial de ouro é adquirida pelos bancos centrais de todos os países para construir uma “reserva monetária”. Ele é usado como um Plano B, para o caso de haver uma crise econômica muito grande e a moeda local desvalorizar muito o ouro pode ser usado como moeda de troca. A maior parte do ouro disponível está de posse dos bancos centrais. O ouro que circula entre os reles mortais tem sua maior parte na forma de joias. Geralmente os países tem leis que determinam normas e procedimentos em se tratando de ouro. Normalmente quando o ouro vai ser vendido apenas como ouro, ele é fundido em barras retangulares e cônicas chamadas “lingotes”. Isto porque nesse formato fica mais fácil desmoldar o ouro e também fica mais fácil seu armazenamento, empilhando um em cima do outro em cofres.

A maior pepita encontrada já registrada pesava mais de 70kg e foi apelidada de “Welcome Stranger”. Estava na cidade de Victoria, na Austrália, a apenas 5 centímetros abaixo da superfície do solo. Você pode estar imaginando uma pedra do tamanho de um asteroide, mas não é bem assim. O ouro é muito denso, e portanto, muito pesado. Só para dar uma referência, um cubo de ouro medindo 30cm em cada lado pesaria cerca de meia tolenada. A peça em ouro mais famosa do mundo é a máscara que cobriu o rosto do Faraó Tutankamon, feita com mais de dez quilos de ouro.

O ser humano tem um sonho antigo, que é conseguir fabricar ouro. Bem, isso é possível: ouro pode ser obtido sujeitando a platina a uma reação nuclear. Mas considerando que a platina é tão ou mais rara do que o ouro, não adianta muito. Ouro a partir de merda que é bom ninguém consegue fazer. Quase. Até conseguiram fazer colocando uma bactéria em contato com cloreto de ouro, uma substância que pode ser extraída da água do mar. A bactéria come o cloreto e caga ouro puro. Sim, isso foi o mais próximo de transformar merda em ouro que chegaram, mas ainda não é viável, pois o processo fica mais caro do que comprar o ouro pronto. Porém merece uma menção, cagar ouro é um sonho antigo da humanidade. Enquanto isso, seu preço continua subindo. Ouro é considerado um investimento seguro, pois tende a se valorizar eternamente, a menos que alguém aprenda a extrair ouro do fundo do mar.

Por enquanto, só dá para extrair do solo mesmo. Se por um acaso encontrarem ouro no seu terreno, você só recebe 0,5% do valor. Qualquer um pode explorar ouro, desde que faça uma solicitação ao Departamento Nacional de Produção Mineral e esta solicitação seja aprovada. A concessão é de quem pedir primeiro. Por isso, se você acha que pode haver ouro em algum lugar, não pense duas vezes. Estima-se que 80% do ouro do planeta ainda vai ser descoberto. E se você está encantado com o texto e como bom carioca já planeja o roube de uma medalha de ouro nas Olimpíadas de 2016, fica a dica: tente roubar medalhas de ouro de Olimpíadas até 1912, pois depois disso elas deixaram de ser se ouro puro e passaram a ter “apenas” um banho de 6g de ouro. Nada me surpreende vindo do Brasileiro Médio, principalmente depois que roubaram e derreteram a Taça Jules Rimet.

Ouro sempre foi e ainda é status de pureza, de raridade, de privilégio. Hoje existem excelentes tratamentos dados a outros metais menos nobres para prolongar sua durabilidade, mas a verdade é não se conseguiu imitar a resistência do ouro nem o seu status. Cobiçado independente de cultura ou de modismos, ouro é sempre um bom presente. Fica a dica.

Para passar a cuidar melhor do seu computador agora que você sabe que tem ouro nele, para se perguntar quanto dinheiro ganhará quem inventar uma técnica para extrair ouro do mar ou ainda para me presentear com ouro: sally@desfavor.com

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